Risoleta C Pinto Pedro
O pai do Menino Jesus
É um dos dogmas da Igreja. Eu respeito a Igreja e todas as religiões, mas dispenso os dogmas. Este dogma diz que o Menino Jesus tem um pai no céu, como todos nós. E que tem outro na terra, no que também não nos distinguimos dele. Mesmo que já tenha morrido, ou que não o tenhamos conhecido, etc, etc, toda a gente teve um pai. Alguns tiveram dois, como é o caso do Menino Jesus, um pai de que não se sabe, e outro que está presente. O que não desvaloriza nem um nem outro pai, cada um faz o que pode. Alguns avós fizeram de pais, ou tios, e alguns pais tiveram a mesma dificuldade de Deus: não podendo estar presentes, ou ser mais visíveis, pelas mais diversas razões, que cada um sabe de si, provarem aos filhos que os amam. Temos todos a mesma dificuldade com Deus, esse pai que cremos distante, mas que provavelmente não o está assim tanto. Algumas mães têm o mesmo problema, mesmo presentes, que a distância não se mede em quilómetros. E sempre houve irmãos e irmãs mais velhos, avós, tios e tias, professores, vizinhos, a esforçarem-se por estar presentes onde foi sentida ausência. Algumas dessas figuras de substituição fizeram de pai e de mãe. Cada um fez o melhor que pôde. A verdade é que andamos quase todos mais ou menos zangados com o Deus que não conhecemos ou com um pai ou uma mãe que conhecemos demasiado bem. E essa zanga não nos faz bem. É como se quiséssemos matar uma parte de nós. O que há a aprender com a Trindade da gruta é que nunca a mãe censurou o pai oculto por não estar presente, nunca o pai presente deixou de se comportar como sendo o pai real. Talvez tenha nascido aqui, se existe, o milagre da divindade de Jesus, que nasceu profeta, mas foi feito Deus por um homem e uma mulher simples de coração limpo que se limitaram a ser o que lhes era pedido. Sem olharem para trás com olhar de raiva, de arrependimento ou de censura. Isso tê-los-ia transformado em estátuas de sal, e ao Menino em bezerro de ouro. É que amar é uma tarefa a tempo inteiro. Ou se ama ou se odeia. Por isso, aqui permanecem ao fim de mais de dois mil anos, vivos, sempre vivos, símbolos da melhor versão de nós. Do que viremos a ser. Talvez esse tempo não esteja muito distante...
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