Risoleta C Pinto Pedro
Dias febris e criação
Foram febris os meus últimos dias do ano que deixámos para trás, foram febris os primeiros dias deste jovem ano em botão. Mas eu tinha uma missão, que era fazer o percurso do advento. Uma missão por mim atribuída. Ou talvez não.
Aparentemente, atribuí-me a responsabilidade de guardadora do presépio e da luz. Quando nos aproximamos da luz arriscamo-nos a ter de lidar com a sombra. Foi o que aconteceu. A sombra saía da minha pele a arder e introduziu-se no espaço sagrado do templo onde estava o menino nascido.
Eu não podia fazer nada. Isto é, a única coisa que eu podia fazer, que eu posso fazer sempre, era, é escrever. E foi isso que fiz. Febrilmente. Diz, quem sabe que as coisas assim se passaram, que era difícil, para quem assistia de longe, acreditar que no meu corpo havia um incêndio e que ao mesmo tempo das minhas mãos saía a fresca sombra da criação. E no entanto assim se passou tudo. Era preciso salvar-me a mim e ao menino e ao presépio inteiro, era preciso criar estradas de luz e sombra para os magos, era preciso salvar humanos e animais, era preciso salvar a estrela para que ela pudesse salvar-me. De mim mesma. Eu, a infiltrada do presépio. A arder em chamas de luz. Como dói, por vezes, o excesso de claridade.
Contudo, enquanto me virem a escrever, podem todos ficar tranquilos. Estou sob o poder da grande magia que salva. Que ela, a universal dádiva da criação nos abençoe a todos, e que cada um saiba com toda a precisão o que deve e pode fazer nos dias de sombra. Porque todos somos visitados por esses dias e é preciso salvar o presépio. E a nós com ele. E ao mundo connosco.
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