Risoleta C Pinto Pedro
E CONTUDO, É NATAL…
… também em Alepo.
Alepo é uma cidade, mas é mais do que isso. É um território. Um espaço físico e um espaço mental. São vários arquétipos num.
Hoje vi pessoas em Alepo a enviarem mensagens através das redes sociais com consciência de que poderiam ser as últimas. A última conversa com o mundo.
Anne Frank escreveu um diário que foi divulgado anos depois. Os habitantes de Alepo, cidade memória do mundo, estão a ser dizimados e informam-nos em directo, no tempo prévio. Não me interessa aqui, talvez noutro lugar, noutro dia, o aspecto político, o móbil do crime, os responsáveis pela tragédia humana, cultural, cósmica. Alepo está no meio do cosmos e sem ela perdemos o nosso centro. Hoje, apenas isto rodopia no meu centro.
Onze séculos antes de Cristo, já existia. É muito mais antiga do que Jesus. Quase me apetece colocá-la no presépio, a ver se assim a consigo salvar. O menino Jesus tem-se safado, e todos os que o acompanham. Talvez seja isso que fez falta a Alepo, fazer parte de todos os presépios do mundo.
Aquela que já foi a maior cidade da Síria, quase ao nível de Constantinopla está, com a sua gente, a desfazer-se em pó.
Foi sofrendo algum declínio, ao longo dos tempos, o que, paradoxalmente, a preservou do ponto de vista cultural e arquitectónico, a ponto de ter sido considerada capital islâmica da cultura.
Hoje é a capital islâmica da barbárie, a rivalizar com muitas outras.
Passou pelos hititas, pelos assírios e romanos e árabes, pelos cruzados apenas sitiada, sem sucesso.
Foi terra do poeta Al-Mutanabbi, como Jesus nascido num mês de Setembro (sim, não é gralha…).
Escreveu algo que ouso traduzir com relativa liberdade:
Sou aquele cujos poemas podem ser lidos até pelos cegos
E cujas palavras podem ser ouvidas pelos surdos
O corcel, a noite e o deserto, todos me conhecem
E a espada, a lança, o papel e a caneta.
Disse também (mundo, porque não o ouves?!):
Se vires os caninos do leão não partas sempre do princípio que está a sorrir.
Por isso, nada mais digo. A minha emoção a estes irmãos desta cidade que a menina em mim quer salvar dentro do único lugar verdadeiramente feliz, verdadeiramente seguro que conhece: o presépio.
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