Tenho sido premiada com umas mensagens amigas e muito queridas no FB, uma corrente que consiste em colocar uma foto do nosso animal ou animais com o título acima.

Neste tempo de verão é muito frequente ver animais à beira das estradas, das auto-estradas, mortos, vivos, estropiados, atropelados. Abandonados.

O objectivo é alertar para o abandono dos animais. Há muitas formas de abandono. Pode abandonar-se um animal dentro de casa. Ou uma pessoa. Dentro do coração. Pode maltratar-se um animal no recato da casa. Na dureza da pedra em que se transformou o coração.

E tanta pena tenho duns como doutros. Porque é preciso ser-se mesmo muito infeliz para maltratar um animal, seja agredindo-o, ignorando-o ou abandonando-o. São tudo formas de abandono.

Os adultos têm tendência a reproduzir comportamentos que sofreram. Uma pessoa que abandona ou maltrata um animal está a expressar o seu próprio abandono ou sofrido maltrato. Está a abandonar-se, como anteriormente terá sido abandonada. Há muitas formas de abandonar ou de ser abandonado. Uma delas é em presença. Uma pessoa que abandona um animal está a abandonar-se a si mesma. Mais uma vez. Está a reproduzir, até ao insuportável, o trauma que precisa de curar. Até um dia. Que nunca sabemos onde está marcado no calendário. É da ordem do mistério. Até lá, os animais (e as crianças, e os velhos e os doentes e as mulheres em certos países, e de um modo geral os homens em todos…) continuarão a via-sacra do sofrimento e do abandono. Até não suportarmos mais assistir ao teatro da nossa própria dor.

Farei a minha parte do trabalho. Sejas tu quem fores, cão, gato, criança, idoso ou adulto, nunca te abandonarei. Mas se (não sendo cão, ou gato, ou criança ou idoso) te abandonares a ti mesmo, nada poderei fazer. Ficarei na minha companhia. Nunca me abandonarei.

Os meus cães olham-me neste momento, interrompendo um pouco o sono e parece-me ler no seu olhar: «Nunca te abandonarei. Mesmo depois de partir».

Eu sei, amados seres, eu sei.

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