Risoleta C Pinto Pedro
Diálogo de rua
- E como está?
- Nem lhe sei dizer, completamente avassalada pela maior aventura que alguma vez já vivi!
- Hum... apaixonada?
- Não sei...
- Mas não está a falar de uma aventura amorosa?
- Talvez... tem dias...
- Conheceu alguém?
- Todos os dias!
- Não estou a perceber...
- Nem eu...
- Falou-me de uma aventura amorosa, de alguém que terá conhecido...
- Eu disse isso?
- Foi o que eu percebi...
- Não disse nada disso.
- Perdão?
- Você é que interpretou assim, eu só disse que estou avassalada pela maior aventura que alguma vez já vivi! Não disse que estava apaixonada ou que tinha um caso amoroso, ou que tinha conhecido alguém em especial.
- Então?
- Então, digo eu!
- De que aventura se trata então? Mudou de emprego? Mudou de casa? Vai mudar de cidade, de país?
- Não. Acha isso grandes aventuras, ao pé desta?
- Mas se eu não sei de qual é que se trata...
- Nem vai saber, pelo andar da carruagem. Pela sua capacidade de imaginar... se a maior aventura que concebe é mudar de país, como é que há-de compreender esta?
- Vai mudar de continente?
- Frio, frio...
- Vai para o Árctico?
- Homem, referia-me a que está ainda muito longe de descobrir a que aventura me refiro. Mudar de continente não é nada...
- Não me diga que vai mudar de planeta!
- Quase, quase...
- O quê? Vai para uma estrela?
- Ó homem, eu não disse que não se tratava de mudança de planeta, apenas pus em causa o tempo verbal.
- Como? Quer dizer que já se mudou?
- Há muito tempo...
- Não dei por nada... para onde?
- Para onde?! Oh céus, tenho de lhe fazer um desenho... para cá! Mudei-me para cá! Acha isto uma pequena aventura?
- Mas então... de onde é que veio?
- Mas isso já é querer saber mais do que eu. Apenas sei que me mudei para cá, que é a maior aventura que consigo conceber e realizei-a, consigo equilibrar-me sobre um planeta em constante movimento sem cair, não sei de onde vim nem quanto tempo por cá fico, mas estou a gostar tanto, apesar das dificuldades e dos desafios, que pretendo por cá ficar durante muito tempo. Você não?
Neste momento, o meu interlocutor já me tinha virado as costas e procurava algo no telemóvel. Talvez o número da linha de saúde. Mas isso não me preocupa. Interessa é que estou cá. A viver a maior aventura que consigo imaginar. Mesmo quando não acontece nada, só estar aqui já é quase inconcebível de deslumbramento.
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