Risoleta C Pinto Pedro
Décimo segundo ano de Quarta-Crescente
Publicamos hoje, 6 de abril de 2016, a 374ª crónica Quarta-crescente, com que entramos no décimo segundo ano. A UNICEPE agradece mais uma vez, desta forma singela, à escritora Risoleta C Pinto Pedro a sua generosa cooperação.
Esta 374ª crónica coincide com o exato dia do aniversário. Aproveitamos para falar da diferença entre cardinal e ordinal: Completam-se hoje 11 anos. Inicia-se o 12º ano. Esta tão simples questão permite evitar tanta confusão como a que houve no início do século XXI, em 1 de janeiro de 2001.
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Da liberdade
Liberdade para toda a gente, sempre, excepto... para os que privam os outros da liberdade. Isto é, devem ser livres para viver com toda a dignidade possível, mas com restrições acerca do onde e do como.
É óbvio que também aqui deve imperar o bom senso. Que não é o mesmo que o senso comum. É senso, mas não é comum. É bom. Bom senso. O senso comum nem sempre é bom senso e o contrário também é verdade.
Quem tem o impulso de destruir outros, não pode ficar livre para o fazer. Pode ter liberdade para tudo, para ler, estudar, cultivar-se, pensar, ajudar, trabalhar, mas num contexto de restrições em que não tenha oportunidade de continuar a praticar os mesmos actos destrutivos. Parece-me uma coisa simples, clara, que até uma criança consegue compreender.
A guerra actual ultrapassa todos os pseudo-códigos de honra que os homens sempre associaram às guerras para justificar o injustificável. Contudo, num certo tempo foram sendo melhores que nada, fazem-se tratados, celebram-se armistícios, acordam-se limites, ignoram-se os limites, refazem-se os limites e assim se vai matando e morrendo com moderação e estilo. Um jogo de crianças muito perigoso com armas a sério e propósitos obscuros. Um mimo de progresso. Acordos de homens civilizados para a gestão do património, do território e da morte.
De vez em quando, o lado mais selvagem desta humanidade estala e começa a matar-se como quem come pipocas ou amendoins. Aconteceu recentemente em África, na Europa (sempre ali para o lado direito de quem tem o mar à esquerda, à falta do Google maps). O Médio Oriente não quis ficar atrás, e os EUA deram uma ajudinha, afinal a solidariedade é uma coisa bela entre os povos.
Como a Europa estava a ficar muito na plateia, vem agora, auto-suficientemente, fazer uns teatros de guerra. Santa, pois claro. Ao gosto da História.
Os canhões e mesmo as armas químicas já tiveram o seu tempo. Agora, o que está a dar, é o corpo humano, a coisa mais explosiva à face da terra. Não lhes chamem selvagens, sabem muito bem o que estão a fazer. Tecnologia de ponta. E mola.
Nós, europeus que nos séculos dezanove e vinte andámos a aprender com os indianos, os tibetanos e outros o valor da meditação e da compaixão, tendo feito um original cocktail com a ocidental liberdade, sentimo-nos agora desarmados. Não está a funcionar. Pois não. Porque deixámos de pensar por nós. Há, ainda, demasiados gurus. Uns ansiosos por o serem, e outros relutantes. Nada contra a meditação. Pelo contrário. Nada contra a liberdade. Pelo contrário. Nada contra a compaixão. Pelo contrário.
Mas está provado, cientificamente estudado, que se estados meditativos em grupo conseguem diminuir o índice de criminalidade, logo que acaba a experiência volta tudo ao mesmo... o que me faz pensar que voltamos à guerra interna quando paramos a meditação. Somos todos feitos da mesma massa, uns mais loucos do que outros, uns mais controlados do que outros, uns falam mais em meditação e em compaixão, mas vai tudo dar ao mesmo. Uns falam em compaixão, outros praticam-na quase sem conhecerem a palavra.
Uns falam em meditação e sentam-se de vez em quando a meditar, outros fazem da sua vida um acto de meditação. Parece-me uma coisa com mais bom senso. Ainda não é comum, mas era bom que nos encaminhássemos para lá. Meditação andando, a caminho do trabalho, da escola, do encontro amoroso, de nós mesmos, de tudo. Respirando, que é um hábito muito aconselhável, quero eu dizer, tendo consciência da inspiração e com o ar trazer inspiração para as nossas vidas. E compaixão. E liberdade.
Quanto aos outros, os que transformam as suas práticas de vida em armas de destruição, não tenhamos ilusões. Merecem a nossa compaixão e tudo o que pudermos fazer por eles. Tudo. Menos abrir-lhes as portas da prisão. Chama-se a isto compaixão em acção ou compaixão inteligente. O contrário, que já vi defender, chama-se, perdoem-me se sou demasiado directa, estupidez em acção.
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