2016-01-06



Risoleta C Pinto Pedro


Uma crónica que era para ser de Reis


O número seis é eloquente na vida de Jesus. De três, metade de seis, é a composição da sagrada família, aos seis dias de Dezembro chegam os magos e o que mais se verá. Jesus nasceu seis anos antes de Cristo, o que, aparentemente, pode não fazer sentido, nascer antes do tempo que ele próprio inaugura, mas que faz o sentido todo. Embora isto das datas pareça sempre um bocado aleatório, o caso não é bem assim.

Jesus terá nascido em Março, mas é celebrado em Dezembro, juntamente com o seu irmão sol, porque também ele é um Sol. E terá nascido seis anos antes de nascer. Está certo, porque não nascemos de uma única vez. Vamos nascendo ao longo da vida, ou renascendo. Assim nos preparamos para esse grande nascimento que será, mais tarde, a grande viagem. Mas regressemos a Jesus.

A Igreja fixou em Dezembro o que era Março, que agora é o terceiro mês, mas que já foi o primeiro, e a mesma Igreja em fixou seis anos depois o que acontecera seis anos antes. Nada a reclamar.

Seis anos é a idade da entrada das crianças na escola.

Jesus teve a sua apresentação oficial no templo, como bom judeu que era, quarenta dias depois de nascer. O que é muito prudente, porque nessa idade ainda não lhe podiam fazer perguntas. Eu adiro de coração ao ritual judaico que prepara a criança para o que a espera, o confronto com os doutores, os professores, os sábios, os religiosos… assim pode ir-se preparando para o grande encontro, a primeira morte e renascimento que é a escola. Aos seis anos. Jesus adiou para a idade ideal da Iniciação, os 12 anos, duas vezes seis, quando se fez perder dos pais para ir ao encontro dos doutores. Onde falou para eles. Que ouviram o que ele andou a preparar dentro de si a partir dos seis anos. Não se testou prematuramente, foi inteligente.

A vida poupa a criança até aos seis anos, protege-a na família e aos seis atira-a aos doutores. Que a interrogam e lhe ensinam coisas que ela não sabe.

A propósito, recordo um documentário que vi há uns anos, sobre um menino que não queria ir à escola, porque lá só lhe ensinavam coisas que ele não sabia. Jesus, no dia quarenta, em que entrou no templo, apercebeu-se do perigo e preservou-se. Renasceu silenciosamente aos seis anos e preparou-se durante um ciclo de outros seis, quando esteve entre os doutores e os doutrinou sobre o que sabia. E eles ouviram-no.

O calendário marca a data desse silencioso renascer. Numa gruta, desta vez invisível, interna, silenciosa, que ele já estava demasiado escaldado com os Herodes deste mundo.

Nasceu antes de si, o Jesus de seis anos nasceu para si mesmo e assim pôde nascer para o Mundo. Estamos seis anos atrasados em relação a Jesus. E esta é uma afirmação muito optimista. Mas dá-nos tempo. De nos apresentarmos no templo. Que é o Universo. O presépio, todos os anos, nos prepara. Apesar dos nossos esforços para não percebermos nada. Há um Jesus a renascer permanentemente dentro de nós, em silêncio, que não desiste.




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