2015-10-07



Risoleta C Pinto Pedro


Os padrões


A melhor forma de sair de um molho de brócolos é permanecer nele. A melhor forma de sair de uma alhada é permanecer nela.

Isto afirmava há uns anos Bob Mandel num encontro de terapeutas renascedores e outros, sem usar, está claro, o colorido da linguagem nacional.

Dizia ele que lutar contra um padrão é dar-lhe força, é reforçá-lo, é perder por muito tempo a oportunidade de o resolver.

Assim, aconselhava a que em vez de se usar a adversativa "mas", quando nos encontramos perante um padrão, usemos a coordenação "e".

O "mas" contém a oposição, a luta, e neste caso, a perda. O "e" concilia, casa, anula a oposição, aplaca a ira dos deuses, faz ganhar tempo, é caminho eventualmente lento, mas seguro, para a liberdade.

Por exemplo, se alguém se encontrar perante a incapacidade de sair de um vício, como o tabaco, mas qualquer outro serviria para o caso, em vez de formular a situação em termos de: "Eu quero deixar de fumar, mas continuo a consumir cigarros", aconselhava a verbalizá-la da seguinte forma: "Eu quero deixar de fumar e continuo a consumir cigarros."

A fórmula é válida para um padrão de qualquer tipo.

Em vez do monólogo: "Já estás nisto outra vez!?", acompanhado de raiva, choro e ranger de dentes, é experiência radical sentarmo-nos sobre o tal "isto" e ali permanecer. Olhar à volta e apreciar a paisagem.

Há muito para ver dentro de um molho de brócolos. Nunca nos demos conta, não por falta de experiência de ali entrarmos, mas porque estamos sempre a tentar sair. Enquanto nos esforçamos por sair não temos capacidade para perceber onde estamos. Talvez por isso a vida nos conceda a oportunidade de lá voltarmos. Uma e outra vez. Oportunidade que não vemos como tal, mas como afronta. Se um dia decidirmos, já que ali estamos, olhar à volta e apreciar a paisagem, e se à pergunta sobre o que fazemos ali nos limitarmos a responder que não fazemos nada, apenas estamos, já que ali fomos parar, talvez a ansiada ataraxia tão procurada longe dos brócolos, sem o esperarmos se revele mesmo no núcleo, no nó onde os brócolos estão atados. Nesse momento, podemos sair. Ou ficar. Porque torna-se indiferente o onde estamos. O interessante do processo passa a ser estarmos onde estamos, isto é, na nossa companhia, deliciosamente recostados, eventualmente, num fresco e tenro molho de brócolos. Não há melhor lugar. No instante dessa percepção, dissolve-se o padrão. Estamos livres. Dentro de um molho de brócolos voamos, dançamos e rejubilamos.

Entramos e saímos só pelo prazer de entrar e sair. Como crianças, leves, brincamos. E já não notamos grande diferença entre o fora e o dentro. Um dia, procurando entrar, apercebemo-nos que o molho de brócolos desapareceu. Temos pena, porque estava a ser divertido. Não temos alternativa senão esperar pelo próximo. Porque a vida não desiste de nós e a terra é um latifúndio de um Deus obcecado por brócolos.




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