2015-09-16



Risoleta C Pinto Pedro


OS LIVROS TAMBÉM SE ENAMORAM
ou
OS FIÉIS DO AMOR


Somos observados por pássaros e por... livros.

Não é raro um pássaro, após muita observação de cima, desmaiar-nos aos pés e verificarmos que nada apresenta, nem fractura, nem lesão, nem fraqueza. Após noite na nossa companhia, recomposto do cansaço de voar ou da saudade, lá prossegue seu voo.

O mesmo, com algumas diferenças, sucede com os livros.

Os livros escondem-se nas estantes. Ocultam-se atrás de outros livros, procuram o lugar mais sombrio, deitam-se ao comprido de modo a esconderem título e lombada, encolhem-se, empoeiram-se, recorrem a todo o tipo de disfarces para não serem vistos enquanto se encontram na espera, até que chega... aquele ou aquela... o Amado, a Amada, que aguard?avam.

Então empurram todos os que lhes estão à frente, desempoeiram-se, abrem-se, procuram a zona mais iluminada, a posição mais sedutora, inclinam-se e ... caem-Lhe aos pés! Do ser
ansia
do, o Amado, aquele por quem vale a pena desfolharem-se, abandonarem o conforto familiar da livraria e
inici
arem uma
vid
a nova nas mãos d
o ou da tal
por quem se sabem amados.
São os livros, esses silenciosos, fiéis
do amor
e determinados enamorados.

No entanto, esta séria comédia que os livros encenam pode desenrolar-se no teatro doméstico onde se encontram há anos, e um dia, à passagem ?daquele ou daquela que quase eternamente observaram, com um golpe de rins, saltam por cima de outros como atletas, e prostram-se no chão em súplica, arrojo e emoção. A quem não aconteceu isto já? Como se resiste a tal acto de entrega, a tal inesperada declaração de amor?

Passa então a acompanhar-nos, o livro, para todo o lado aonde vamos, como amante, e só depois de o conhecermos profundamente o reentregamos à estante, em lugar nobre e triunfante.

Outras vezes chega-nos por benévolas mãos, inesperadamene, o esperado livro, em lugar sagrado ou pelo acto passando a sê-lo.

Numa livraria aconteceu-me já, um livro começar a brilhar com uma espécie de neon, as portas fecharem-se de modo a impedirem-me a saída, os corredores transformarem-se em passagens perigosas, e eu sentir-me inevitavel e literalmente empurrada em direcção ao brilho. Pego e pago então a miseriosa luz que se desfolha como em filme de animação. Nesse momento a livraria readquire a normalidade, reabrem-se as portas e eu saio acompanhada como nunca, por um livro que luminosamente me sorri e que, sem saber, sempre amei.


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