Risoleta C Pinto Pedro PEDRA DE CAMINHO
Sol sobre São Tiago Tenho uns amigos que regressaram há pouco do Caminho de Santiago. Para me consolarem de eu não ter podido ir este ano, trouxeram-me uma pedra, uma bela pedra do caminho. Comoveu-me o facto, porque a recolheram a meio da peregrinação, em sítio especial e a pedra não é propriamente, pequena. Sabendo eu, por experiência própria, da importância que tem para um peregrino a leveza da mochila, que corresponde à leveza da alma com que faz o caminho, transportar aquela quase monumental bela pedra até à catedral para ma oferecerem no regresso, é obra de catedral. Olho-a aqui no meu espaço templo e procuro reconhecê-la. Recordo todas as pedras que encontrei no meu caminho: Para além da pedra de fundamento de que falam os arquitectos, a de arremesso com que afastei miúdos grandes e incomodativos no caminho da escola, a pedra do padrão ou sinal dos livros de leitura ou de história, a pedra dos caminhos onde tropecei, a pedra de altar, a pedra das entradas, a pedra dos moinhos, os meteoritos, a pedra de açúcar que roubava do açucareiro, a pedra com que jogava à macaca, baixa, polida, regular na sua irregularidade, as pedras das janelas das tantas casas, de tantas esperas... que pedra é esta que deixou o caminho a meio de uma peregrinação para me vir habitar? Olhei-a com os olhos fechados para melhor a ver, e como as crianças que gostam de ter um conhecimento completo das coisas, recordando-me de umas que vi uma vez, no museu, perante uma escultura, impedidas de tocar com as mãos, que eram obrigadas a guardar atrás das costas, não se contentando com o olhar, contornando com a língua o bronze da forma, assim fiz eu, para melhor conhecer a pedra do caminho. A revelação foi inequívoca e agora sei: soube-me a sal, a pedra é o sal da terra, da água, do sol e do ar, percorreu esse caminho para me visitar como pedra de sopa que enriquece o sabor e dá o toque especial a sal e a mar. Santiago em minha casa escondido em pedra, com sabor ao sal da viagem que ele próprio fez até chegar à Galiza. Uma pedra protagoniza uma épica antiga e uma épica moderna através do sabor, essa extraordinária ferramenta de conhecimento pelo Criador concedida aos seus filhos distraídos das bênçãos que, banalizando, se esquecem de receber. risoletacpintopedro@gmail.com http://aluzdascasas.blogspot.com/ http://diz-mecomonasceste.blogspot.com/ http://escritacuracriativa.blogspot.pt/ http://www.facebook.com/risoleta.pedro http://risoletacpintopedro.wix.com/risoletacpintopedro |
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