2014-12-17



Risoleta C Pinto Pedro


Natal com todos



É um tema que não me cansa. Por ser anual, mas não só por isso. O Natal é um dos momentos em que o sentimento de magia é mesmo real dentro de mim. Há outros, mas nenhum se lhe compara.

Mesmo depois de terem partido os que partiram, alguns de tão de dentro de mim, quando eu pensava que nunca mais o Natal voltaria a ser igual, cá está sempre e mais uma vez o milagre, o encantamento, o perfume longínquo e sem nome.

Mesmo e talvez com as correrias das pessoas nas ruas e nos centros comerciais, as luzes comerciais nas ruas a fingirem Natal, as prendas porque sim, o stress inconsciente de autómatos, a ausência do que realmente importaria.

E no entanto… o que realmente importa está ali. Visível e invisível. Porque o que importa é que cada um faça o que pode, o que sabe. O que realmente importa é que o olhar do que vê para além do olhar não culpabilize, mas acolha. Autómatos e humanos, num mesmo abraço. O que realmente importa é honrar estas crianças grandes tão aflitas, é respeitar a sua dor e apreciar os seus esforços suplementares para além do quotidiano. Carregam árvores de Natal, sacos e bolos, compram o que não podem, sorriem o que não sabem, param por momentos para pensar, para sentir, às vezes, começam a olhar para os que do Natal apenas vão ter a alienação das ruas, sem o conforto e o calor do abraço e da casa. Talvez alguns invejem aqueles que não estão obrigados ao conforto, ao calor e ao abraço da casa. Porque não acreditam na genuinidade desse conforto, desse calor, desse abraço. São os sem abrigo relutantes. Viram as costas à rua e invejam os que ali permanecem. Outros saem de suas casas e vão para a rua. Para eles, o natal é procurar os meninos jesus de todos os tamanhos que ficam nas ruas.

Seja como for o Natal para cada um de nós, ainda que eu não tivesse uma única figura para representar o presépio, havia de o fazer de alguma forma, com pedrinhas, troncos e fósforos. OU gente. Como no Natal de uma das minhas infâncias (tive tantas!) em Alenquer, presépio vivo. Porque dentro de mim está intacto e todos cabem. No meu presépio, para além as figuras obrigatórias e tradicionais, menino, manjedoura, mãe, pai, burro, vaca, galo, anjo, estrela, pastores, ovelhas, galo, reis magos, cabe também a senhora equilibrada em cima de saltos do tamanho de torres segurando sacos que daí a dias vão direitinhos para o lixo (a ver se não me esqueço de colocar no meu presépio um ecoponto), as crianças que não sabem ainda se passam o Natal com a mãe ou com o pai, os sem-abrigo que sabem que pelo menos uma ceia decente alguém irá proporcionar-lhes, aqueles que arranjam todos os pretextos para se esquecerem de que é Natal, e eu, nos meus seis anos, irradiando amor pelo menino nas palhas, sentada imóvel numa atitude que não sabia que era adoração, porque não tivera educação religiosa, a irradiar, sem o saber, para todo o sempre, para todos os anos da minha vida, esta magia que não sei descrever, mas que me transporta a mundos desconhecidos que também não sei nomear, no Natal. Com todos.

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