2014-12-03



Risoleta C Pinto Pedro


O triângulo azul

Quando andava no liceu tínhamos uma biblioteca de turma. A professora de Português era a excecional Lídia Jorge.

Eu já era uma grande leitora, por isso sentia-me como peixe na água, com esta professora.

Recordo-me de ter lido, na altura, um conto de Ray Bradbury que se chamava “O triângulo azul”.

Era uma história encantadora acerca de um casal que estava à espera de um bebé e quando chegou o momento tiveram a imensa surpresa de o bebé ser… um triângulo azul!

Só me recordo da história até aqui, por mais que me dê voltas à memória não consigo recordar como terminava e ainda por cima nunca mais consegui encontrar o livro em lado nenhum, nem menção a ele.

Chego a interrogar-me se terei inventado esta história.

Usei-a enquanto professora, reescrevendo-a até este ponto e pedindo aos alunos para a completarem. A conclusão de uma história destas diz muito sobre cada um.

Que se faz com um triângulo azul? Pinta-se de verde? Transforma-se em quadrado ou em círculo? As duas coisas?

Ou… arranja-se para ele uma caminha triangular e fofa?

Eu própria me vi, um dia, confrontada com um lindo triângulo azul. Depois de imaginar tudo o que poderia fazer com ele, desde pintá-lo de verde a transformá-lo num círculo, caí em mim e percebi que aquele belo triângulo azul era o meu mestre de geometria da vida, o meu pequeno mestre arquitecto do viver. Revolucionou a minha vida e melhorou a pedra meia embrutecida que eu era. Quando pensava que já não poderia passar sem ele, entrou numa esfera e partiu. Fiquei destroçada. O meu mundo era triangular e azul e faltava-me a forma que lhe dera forma.

Ali fiquei algum tempo com o esquadro e o compasso sem saber que fazer com eles, até que fui olhando à volta e percebi que havia outras cores e outras formas mestras à espera que eu me dispusesse a aprender outras coisas.

Nunca mais vi o pequeno triângulo, nunca mais encontrei o livro do Ray Bradbury.

Mas foram os livros e a geometria do triângulo azul que me abriram o mundo e uniram o que até aí estava separado: terra e céu.

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