2014-11-05



Risoleta C Pinto Pedro


SONHOS DE SONHOS

A propósito de ensinamentos, lições de vida e aprendizagens, lia no outro dia uma monja budista chamada Pema Chödron, autora de um livro encantador e profundo que tem por título "Os lugares que nos assustam", que afirmava:

"... professar o desejo de não guardarmos os ensinamentos para nós mesmos, mas de os usarmos para o benefício dos outros."

Isto pode parecer em conflito com uma outra afirmação, a do coach Maciej Bennewicz: "Não acordem os que estão a dormir. permitam-lhes que sintam o desejo de acordar."

E no entanto, para além da superfície, nada de tão profundamente de acordo.

O maior ensinamento que cada um de nós, seja professor, pai, mãe, mestre, coach ou terapeuta, é a sua própria consciência em ação. Não discursos ou lições, mas uma práxis interiorizada.

Não nego a importância de alguns que no mundo se têm destacado irradiando conhecimento. Mas nunca esse conhecimento se espalharia ou seria realmente ouvido se não correspondesse a uma vivência.

Acredito que Maciej Bennewicz não defende que nos alheemos dos outros e nos deixemos ficar no nosso refúgio de despertos, mas que pretende alertar para o facto de que os outros não são casas para arrombar ou nós bombeiros em operações de salvamento de quem não pediu. O acordar do outro está assegurado, ninguém, nem a bela adormecida, dorme eternamente. E o príncipe não está fora dela.

Isto parte de um princípio fundamental, que é o respeito por cada um na profunda e infinita variedade de caminhos, na ausência de rigidez ou fanatismo em relação ao que é certo ou errado.

Cada um acorda no momento próprio, outros vão acordando lentamente, e talvez nós, na nossa imensa ignorância, apenas estejamos a sonhar que estamos despertos.

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