Risoleta C Pinto Pedro

Afinal, somos gregos ou não? Agora já podemos ser gregos, recordar a nossa herança literária, filosófica, artística... política?

Agora que eles estão, segundo os indicadores, a mostrar sinais de retoma?

Depois de termos andado por aí a repetir que não somos gregos, como os meninos bem comportados na escola costumam apontar o dedo e afastar-se dos que se portam mal. A verdade é que nos fartámos de repetir isto e quanto mais o afirmávamos mais gregos nos víamos.

Não é possível rejeitar as raízes, não é possível expulsar os irmãos do nosso universo afetivo sem repercussões graves.

Uma coisa é afundarmo-nos juntos, outra recusarmos uma mão, outra pior ainda, fingirmos que não temos nada a ver com o assunto e assobiar para o lado. Se não somos gregos, muito menos seremos alemães

Os gregos deram-nos :o teatro (Ésquilo, Sófocles, Eurípedes), a arquitetura (Calícrates, os estilos dórico, jónico e coríntio), a filosofia (Sócrates, Platão, Aristóteles), a História (Heródoto, Xenofontes), a matemática (Tales e Pitágoras com os seus teoremas), na escultura (Fídias); na medicina (Hipócrates, cujo juramento continua vivo), a religião (um batalhão de deuses, semi-deuses e símbolos), a política (a noção de democracia e de cidadania), na literatura (Homero com a Ilíada e a Odisseia). Tudo isto antes, muito antes da Idade Média. Os alemães também têm um legado: um holocausto, experiências científicas de uma crueldade inimaginável, um número incalculável de mortos, fogos crematórios, cemitérios a perder de vista, valas comuns cheias de corpos, etc, etc, etc. O pior, com toques de requinte, que a humanidade transportou da Idade Média para o século XX.

Não tenho nada contra a Alemanha nem contra os alemães, não partilho a política de "não foste tu, foi o teu pai", mas há uma herança pela qual cada povo deve responsabilizar-se e recordar-se dela antes de entrar no território de outros com lições de moral filhas da hipocrisia. Tudo isto porque ouvi hoje já não sei em que canal, não sei que político (nem me apetece saber), começar a pretender sugerir que, afinal, talvez sejamos um bocadinho gregos...

"Antes que o galo cante negar-me-ás três vezes" . Não parece a velha história?

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