2013-10-23



Risoleta C Pinto Pedro


Arte e consciência

Que é o mesmo que dizer-se: arte e alquimia. Porque é na consciência que se faz a alquimia. Sendo que a consciência é seguida pela energia, pelo que é na energia que segue o pensamento que se faz a alquimia.

A arte nunca teve tanto, como hoje, o desafio da dignidade. O caminho pode mesmo começar no lixo, mas o destino é o luxo. O lixo é, hoje, um dos negócios mais lucrativos, e se nos recordarmos do extraordinário trabalho ao mesmo tempo artístico e alquímico que o artista Vik Muniz fez com os catadores de lixo no maior aterro do mundo em S. Paulo, assim os transformando, ou descobrindo os artistas que já eram, não nos restam dúvidas acerca do caminho. De catadores do lixo a catadores de luxo. Do melhor: luxo espiritual.

Somos os maiores criadores de lixo do universo e se isto por enquanto é sem solução, não nos resta outro caminho que o da aceitação. Aceitarmos que temos andado a criar lixo e que é o lixo que temos. Não podemos ver-nos livres dele porque não existe nenhum aterro para além da Terra, no Universo. Vivemos no imenso aterro que criámos. É com ele que temos de nos governar. O mesmo se passa com as nossas mentes. Depósitos espirituais de pensamentos residuais, mais tóxicos que sacos de plástico. E é isso que temos. Não temos onde despejá-los. Apenas nos resta seguir o exemplo de Vik Muniz: integrá-los. Pensamentos e sacos de plástico. São o nosso material de trabalho. A via é a da aceitação, meditação e transformação. É uma via de ação. Muito pragmática. Até corremos o risco de vir a agradar aos nossos mais pragmáticos políticos. Será por aí. Convencê-los (quando estivermos nós próprios convencidos) que o que nos mata pode ser o que nos salva. O princípio da homeopatia. Diluição e dinamização. Recordo que conheci em tempos uns arquitetos que viviam numa casa de sonho, que visitei. Nunca suspeitaria que cada um dos objetos ali existentes tinha sido por eles transportado do lixo da rua e transformado, assim se tornando irreconhecível. Aproveitamento do que o criador colocou no universo, sendo que neste caso, o criador somos nós. Sem exceção. Quem nunca usou um saquinho plástico na vida atire a primeira pepita de ouro.


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