2013-09-25



Risoleta C Pinto Pedro


ESTE SOL QUE NOS AQUECE

É o título de um livro que veio até mim através de um amigo, que por sua vez o encontrou de modo inesperado e informal.

O livro foi deixado abandonado para que o encontrassem, algures, dentro dum envelope com um texto do autor, na capa, manuscrito, a lápis, numa caligrafia regular e elegante, dizendo:

“Aqui te deixo, livro meu,
Para que alguém te leia, entenda,
E queira ver o mundo, a Natureza
E a vida pelo prisma natural
De um velho poeta livre pensador!”

Termina o texto com “Oferta do autor” e assina com uma rubrica que deixa perceber o apelido.

O autor é Vieira de Barros, a edição de autor é assinalada como “final” e datada do inverno de 2008.

O propósito com que mo ofereceu o meu amigo era a continuidade de uma espécie de BookCrossing informal (BookCrossing é, segundo a Wikipédia, ”um conceito que surgiu nos Estados Unidos da América e, num sentido lato, pode ser definido como a prática de deixar um livro num local público, para que outros o encontrem, o leiam, o voltem a libertar e assim sucessivamente”), a forma como, afinal, o livro lhe chegou às mãos. Mas tão comovente achei este episódio, que o fui guardando comigo. Contudo, sinto que o livro deve prosseguir o seu curso e por isso o vou libertar em breve num local que ainda não escolhi.

Estes poemas são definidos, ainda na capa, como “evocativos de expressão universal e naturalista do mundo para que se entenda e ame a vida e a natureza com terrena verdade”.

É um de cem exemplares e na badana o autor publica um excerto do prólogo:

“Agora, fruindo de tanta sabedoria e de experiências adquiridas ao longo de muitos milénios, a Humanidade já devia conviver, fraternamente, em paz e harmonia social.

Só à luz solar das Ciências Naturais a Humanidade encontra luminosos horizontes espirituais que a elevam a belos ideias eubióticos mais conscientes, por si e pela Natureza. Ignoro qual a necessidade e a expressão religiosa do Homem no futuro. Talvez que esta palavra deus se eternize, mas só como simples e poética metáfora.

Evoca-se em Este sol que nos aquece a tragédia humana dos sentimentos religiosos que, afinal, nada têm contribuído para uma sã e sociável humanização das Comunidades, antes comprometendo a sua existência, se mais iludem que esclarecem.”

Para além do sentido do poético e da elegância, do ritmo, da musicalidade, comove-me, neste livro, a frescura do perguntar, da perplexidade, da interrogação sem cansaço neste autor que, pela fotografia, se percebe que já não é jovem, mas que não envelheceu.

Concluo este texto com uma epígrafe com que abre o livro:

“Nós somos quais borboletas que esvoaçam um dia e pensam que é para sempre. Um carvalho e eu somos feitos da mesma matéria. Se recuarmos o suficiente encontramos um antepassado comum. Eu sou um conjunto de água, cálcio e moléculas orgânicas.”

SAGAN, Carl. Cosmos

… e uma passagem do primeiro poema:

“PERANTE O INFINITO

Com emoção intensa, peregrina,
os meus olhos indagam na lonjura
que se estende além-céu e se imagina
através da vastíssima negrura
da noite abíssica e sem idade
os mistérios subtis que Mãe Natura
só desvende a pensante criatura
à luz solar da cósmica verdade!
[…]”

Vieira de Barros



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