2013-02-27



Risoleta C Pinto Pedro


Grândola e Educação

Provavelmente, não se trata do que estão a pensar. Mas tem a ver, sim, com os mais recentes acontecimentos relacionados com o acompanhamento musical das deslocações dos ministros.

Embora eu não tenha muitas certezas em relação a estas coisas e mesmo até alguma dificuldade em expressar opiniões fortes, por falta de convicção, há uma coisa de que tenho a certeza: oxalá os nossos governantes não venham a confrontar-se com manifestações mais violentas (se é que estas o são…), oxalá, por todos nós, porque será bom sinal, não venham a ter saudades destas serenatas, até aqui tão caídas em desuso e hoje recuperadas num contexto de contestação política. Para além de que é sempre de apreciar, aplaudir, valorizar e regozijarmo-nos com o exercício do humor. À violência governativa e económica responde-se com canções. Não gostam? Então, preferiam… o quê???!!!

Mas adiante, não é isto que me conduz a esta crónica. É outro problema, aparentemente mais leve, mas igualmente grave, talvez ainda mais grave.

Quando intitulo esta crónica de “Grândola e Educação” não me refiro a regras de bom comportamento ou boas maneiras, que é a minha última preocupação neste momento, mas Educação mesmo, aquilo que os sucessivos e respetivos ministérios, com particular incidência deste, se têm empenhado em destruir.

Devem ter ouvido na televisão ou no youtube as várias manifestações cantantes. Há uma coisa que me confrange, que me aflige, que me entristece, nestas manifestações. Não a manifestação, não a escolha da canção, até aí está tudo certo, mas o que têm feito à canção. Zeca e nosso povo mereciam mais, merecem melhor. A desafinação, aqui é absolutamente democrática e transversal: vai do ministro aos manifestantes, a mais profunda e embaraçosa desafinação. Notas ao lado, se valessem euros, juntariam uma fortuna.

E isto não é um fait-divers, é o reflexo de uma política de há muitos, muitos anos, diria uma política de sempre, em que a expressão corporal e artística ocupa, quando ocupa, na nossa educação, um lugar subsidiário.

Falo de música, mas poderia falar das artes plásticas, do teatro, da dança, das artes marciais, da meditação, do conhecimento do corpo.

Isto não acontece com todos sos povos. Nos países em que as crianças tiveram educação musical precocemente e ao longo da escolaridade, é diferente.

A política educativa atual não permite prever melhorias, com a atual obsessão pelo Português, pela Matemática e pelos exames.

O que significa que ainda vai ser pior. Os próximos ministros, se por acaso tiverem algum ouvido musical, vão ter de ouvir cada vez maior desafinação. Bem feito!



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