2012-12-05



Risoleta C Pinto Pedro


ANTENA FECHADA

Era um programa numa edição especial sobre o problema da pobreza e do empobrecimento. Esqueceu-se o jornalista de avisar que havia um tabu. Não era possível, aos ouvintes, referirem a política social do governo. Estava fora da temática.

Muito mais belo: os armazéns de recolha de bens. Mas as políticas governamentais que têm empurrado os portugueses para esta carência, não. Politicamente incorreto. No entanto, tem direito a antena especial, uma especialista do Hospital de Santa Maria afirmando que não há acréscimo de fome entre as crianças que entram no hospital. Alguém acredita nisto?

Não sou contra os movimentos de solidariedade e duvido que, perante uma operação de recolha de alimentos como a que houve recentemente, alguém resista a participar. Considero até que, num momento em que tudo falha, a compaixão não pode falhar e é-nos indispensável para sermos melhores humanos. Mas que isso não nos torne acríticos, acéfalos e patetas. Celebrar as campanhas de ajuda não deve eliminar os exercícios de lucidez.

Ou então, como dizia no outro dia uma menina de oito anos (eu ouvi, a conversa era para mim): "Mas os adultos quando crescem perdem qualidades? Se até eu que tenho oito anos sei isto, como é que os adultos não sabem?" E, entusiasmada com a oratória, continuava, já em pleno delírio (ou talvez não): "Será que quando chegam a adultos abrem as cabeças e substituem o cérebro por uma esponja?"

Eu acrescento: o cérebro por uma esponja e o coração por uma pedra. Ou se fala da política social do governo ou se fala dos pobres, agora misturar as coisas, é que não. E a quem não consegue perceber uma coisa tão simples, paciência, fecha-se a antena!



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