2010-07-14



Risoleta C Pinto Pedro


Planetas e disco rígido

Ouvi contar que as guerras resultam de uma excessiva aproximação de dois ou três planetas. É claro que as medidas do universo são muito relativas e aquilo que para os planetas é uma excessiva aproximação, qualquer coisa da ordem de milhares de anos luz, suponho eu na minha bendita ignorância que para eles é já quase tocarem-se a pele, para os humanos é da ordem do desconhecido. Mas esta teoria, partindo do princípio de que tudo o que existe no Universo está em correlação, admite que essa tensão que se cria pela “excessiva” aproximação dos planetas entre si, nos afecta e cria também uma tensão. Acontece então que os planetas, não tendo ego, poderão ressentir-se momentaneamente do mal-estar, mas logo se refazerem, uma vez a distância reposta. Entre nós, por causa da memória, do ego e correspondentes medos, a coisa fia mais fino e o reequilíbrio pode durar décadas, pode custar rios de sangue, milhares de vidas.

Não pretendo defender nem rebater esta teoria, porque não é essa a função da minha escrita, mas acho interessante esta visão do ser humano como sendo muito mais condicionado do que parece, o que é sempre para nós um osso muito duro de roer, porque nos reclamamos de livres e senhores do nosso livre arbítrio, mas só começamos a sê-lo quando nos damos conta de que o não somos.

Isto também não é para convencer ninguém nem para nos deprimirmos com o nosso condicionamento. Somos realmente máquinas auto-programadas com a ajuda de uma panóplia de software que poderíamos elencar assim: disposições cósmicas, circunstâncias da concepção (Quiseram-nos realmente ou estamos convencidos que fomos um acidente? Queriam que fossemos um menino? Uma menina? Antes pelo contrário? Viemos “estorvar”? Ou ansiaram pela nossa chegada?), circunstâncias da gravidez (Como estava a nossa mãe? Feliz? Bem tratada? Cansada? Irritada? Contrariada? Enraivecida? Triste?), circunstâncias do nascimento (De pés? De cesariana? De fórceps? Bateram-nos? Arrancaram-nos logo o cordão? Deixaram-nos ficar amorosamente com a mãe?), primeiros meses (Pais disponíveis, securizantes, ou nem por isso?) , educação, escola, religião, etc, etc.

Tudo isso ficou em dois arquivos: no ambiente de trabalho, disponível, activo, mas também no lugar mais escuro e esconso do disco rígido, cifrado, com código que esquecemos, que já nem sabemos existir. E molda-nos. E impele-nos. E condiciona-nos. Sem sabermos.

Mas somos seres livres, olá se somos! Pelo menos (dirá cada um de nós, ou pensará), eu sou-o, quanto a vocês (pensarão vocês) já tenho mais dúvidas… Mas Eu?! Eu?! Sei muito bem o que faço e por que o faço. Oh se sei… Mas… este orgulho, este medo… de onde me vem?



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