2009-12-23


Risoleta C Pinto Pedro


AINDA O SOLSTÍCIO



Que leva os humanos a reunirem-se numa noite para celebrar o eventual nascimento de um menino, há dois mil e nove anos? O menino mais antigo do mundo, poderíamos dizer. Ou o mais jovem, permanentemente a nascer, a renascer.

Disse há dias o Cardeal Patriarca de Lisboa, na televisão, que as pessoas já esqueceram a origem do Natal. Eu diria que algumas nunca a souberam. Iria acrescentar “tal como o Patriarca”, mas tenho dúvidas sobre isto. Não acredito que a cultura simbólica do Cardeal Patriarca de Lisboa chegue apenas até há 2009 anos. Deve, sem dúvida, ter ouvido falar do Imperador Constantino, o responsável pelo desaparecimento do culto de Mitra, muito mais antigo que o Natal cristão. Mais antigo que isso, sempre os homens, ainda em redor das fogueiras, antes de se abrigarem nas cavernas, saudaram o Deus Sol. Mas Mitra, para não irmos mais longe, que encontramos em várias mitologias, com diferentes designações, como a persa, a romana, a indiana. Sempre com referências ao deus mais natural e mais caloroso: o Sol. Na verdade estamos perante uma tradição pagã. Que não significa ausência de reverência pelo sagrado, pelo contrário, mas apenas que é anterior ao cristianismo.

As celebrações do deus Mitra já se realizavam em 25 de Dezembro, como viria a acontecer com o Natal. Por mimetismo, por tradição, por apropriação. Por coincidência (não casual) com o solstício. Falar de Natal, de culto a Mitra, ou do solstício, é mais ou menos a mesma coisa, cada um puxando a brasa à sua sardinha. Mas a sardinha é a mesma. É o peixe, a era de Cristo, que é a era de peixes (estamos, segundo os astrólogos, a entrar numa nova era, embora não estejam todos de acordo, uns dizem que já aconteceu, outros que está para acontecer, e outros, perante os quais me inclino, que está a acontecer). Cristo teria nascido lá para Fevereiro, segundo alguns, outros não lhe reconhecem entrada neste mundo, mas quanto ao sol ninguém pode negar, porque lhes entra pelos olhos (aos que têm essa sorte) todos os dias, dia após dia, mês após mês, ano após ano, vida após vida. E nasce. Renasce. Diariamente, anualmente. Alguns dizem que já morreu. O que para os nossos sentidos limitados não é uma evidência. Por isso, não interessa. Tiremos partido das nossas limitações, ao menos nisto.

Quanto à confusão entre o 21 (solstício) e o 25 (Natal) parece ocorrer porque os romanos, cujos imperadores se fartaram de fazer tropelias ao calendário, situaram o solstício a 25. O rigor não lhes estava nos hábitos. Mas não faz mal, assim temos mais datas para celebrar, o que é sempre muito bom. Celebremos então o solstício, o Natal, o Sol, Mitra e Cristo, sei lá… a imortalidade do Sol. E a nossa, que somos sol. Sois relutantes, mas, como dizia Galileu, “Eppur si muove”.



risoletacpintopedro@gmail.com
http://aluzdascasas.blogspot.com/



Ver crónicas anteriores



LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS