Não é por acaso que florescem as mimosas, essas flores de oiro.

Apanhei-as às dúzias, pequenos sóis no regaço. Quantas vezes já tivemos sóis no regaço sem nos darmos conta? Quantas vezes lhes assistimos à partida sem o sabermos? Apanhei agora conscientemente estes sóis e como sóis os transporto para uma imensa maternal jarra sobre a mesa da cozinha, num cenário perfumado de frutos. O sol e os frutos misturam-se em forma de cor, em forma de fragrância, em forma de alegria. Um dos gatos aproxima-se furtivamente, quando pensa (Pensa? Pensa…) que não estou a olhar, salta para cima da mesa e engole um sol. Mais tarde irá vomitá-lo, mas não importa, entretanto já teve um sol a percorrê-lo. Era o que eu devia ter feito se não fosse cuidadosa como um gato. Mais que um gato. Os gatos, sob a sua capa de rebeldia, deixam impregnar-se pelo amor.

Uma vela sobre o piano cintila discretamente, não querendo rivalizar com o sol. Sabe o lugar que lhe cabe no teatro da luz. As velas são seres sábios. Com a modéstia que adopta dura-lhe mais a vida e brilha mais por dentro de mim, percorre toda a noite como um farol poderoso quando durante o dia foi apenas uma lembrança de todos os seres que brilham, e chega humilde e vitoriosa à manhã que já a aguarda como uma rainha. Todas as crianças reais (todas as crianças são reais) e todas as crianças nas fotografias a celebram e se regozijam com este inesperado consolo. Apaga-se a memória de todos os momentos difíceis. Sóis, laranjas, velas e sorrisos inocentes mas sábios de crianças são o guia da travessia.

Amanhece em mim a casa, o sol lá fora, discreto, no interior do nevoeiro, o sol cá dentro, modesto nesta escrita de metáforas, o sol no presente. No passado e no futuro, porque no presente, o único que realmente existe, precisamente por também ele não existir. E assim entre vago e vazio vamos durando. Às vezes, dourando. Quando podemos.



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