Todos os anos, pela época que coincide com o início do equinócio de Outono, Helena vai-se abaixo. Ela admite que o seu “baixo” está a sofrer uma certa progressiva “elevação” de ano para ano. Mas ainda é um baixo. Ela acredita que se tivesse a paciência para fazer um gráfico dos seus ritmos emocionais ao longo do ano, em cada momento dos vários anos, descontadas as flutuações pontuais, assistiria a algumas invariáveis. Neste equinócio verificaria (está persuadida) um movimento retrógrado, uma força de gravidade, uma fragilização do ânimo, uma paralisação do optimismo, um ataque às forças do universo dentro dela. Mas não se espanta. Já não se dá muita importância, por esta altura. Adia-se. Sabe que o que há a fazer é observar sem dramatizar, e esperar que passe.

No momento em que a semente se recolhe e seria natural que também nós nos aprofundássemos aguardando a explosão interna que é o apodrecimento da semente, ou solstício, com toda a interna luz que decorre desta explosão à margem de testes nucleares, mas que se produz a partir do núcleo, recomeça febril toda a actividade humana após um momento de artificial paragem que é o verão. Onde antes, na natureza, se reforçava a actividade, agora pára-se. Onde antes se recolhia o ser, agora activa-se. Tem de haver custos. A solução é activar o observador dentro dela e ficar placidamente a assistir ao teatro sazonal da emergência das emoções que já pensava extintas. E que todos os anos regressam, uma espécie de revolta do ser entre os soluções da máquina em convulsão. Aguardando que passe.

- Está a passar…, - diz Helena

- Ainda?

- Hum… já passou. O problema não é o sentir; não me preocupa, tranquiliza-me este meu sentir. Preocupa-me mais os que não sentem, os que já não sentem ou os que ainda não sentem.

- Porquê???

- Tudo o que se sente pode ser curado…

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