2020-04-29



Risoleta C Pinto Pedro


O “Palácio dos doentes”



Em hebreu, a expressão tiqqun significa a reposição da ordem perdida. É um conceito da Cabala que visa o reequilíbrio dos princípios originais do Universo. Não quero entrar muito por aqui, até porque não sou entendida no assunto; a parte que me interessa está relacionada com o lugar ocupado pelo mundo da manifestação, aquele onde nos encontramos, na árvore sefirótica, chamado Reino ou Shekinah, que desempenha o papel de espelho, mas com filtro, que apenas permite a entrada de uma pequena parte de luz, o que faz lembrar o arquétipo da Caverna de Platão.

Sabemos a dificuldade daquele a quem S. Francisco chamou Irmão Sol, para iluminar o mundo. Ele bem irradia sua luz, mas pouco consegue penetrar as paredes da pele que conduz aos caminhos da alma, pelo que este mundo que habitamos não é sempre, nem em todos os lugares, dos mais iluminados. Quando a luz escasseia, a ordem fica perturbada. Um ambiente escuro nunca foi o mais recomendado para limpezas e arrumações, mas pode constituir um bom momento para reflectir e planear o tiqqun. É trágica a dispersão dos cacos do caos por todos os cantos do Universo, mas uma vez reunidos, estes transformam-se em átomos e moléculas de vida. O isolamento físico será caótico se não for acompanhado da reunião das mentes e das almas ao nível das organizações, dos países e das pessoas. Estamos no caos e não necessitamos de Messias, mas de reunião, o tempo que vivemos é o tempo em que cada um terá de ser o Messias do seu Mundo e assim sendo, de todos os Mundos, pois cada mundo contém em si todos os Mundos.

A propósito disto, deixo aqui a belíssima passagem de um livro: “A Cabala e a Tradição Judaica” que descreve na perfeição o que estamos a viver:

«Levanta a voz, lamenta-se, chora. Aproxima-se do mais misterioso dos palácios que se erguem no Jardim do Éden e que tem o nome de “Palácio dos doentes”. Lá, como num verdadeiro pátio dos milagres, encontram-se todas as dores, todos os sofrimentos, todas as enfermidades, todas as lágrimas da Terra. O Messias penetra nesse palácio; e, esse fardo de dores, toma-o sobre os seus ombros para aliviar a multidão, a imensa multidão dos infelizes.»

Neste momento são os médicos, os enfermeiros e restante pessoal de saúde, os cuidadores dos lares, os que recolhem o lixo, os que fabricam material de protecção, os que distribuem os alimentos, todos os que trabalham para que a maioria fique em quarentena, que tomam este fardo. Mas cada um de nós pode e deve tomar uma parte do fardo colectivo sobre os seus próprios ombros. Das mais diversas maneiras, cada um conhece o fardo que lhe calha desta «imensa multidão dos infelizes», mesmo que, para aqueles que se julgam sozinhos, a multidão esteja concentrada num só ser e esse ser seja ele mesmo.


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