2018-10-10



Risoleta C Pinto Pedro


Boas maneiras e V Império

O que aconteceria se, em Lisboa ou no Porto, uns turistas, por desconhecimento do processo, fossem encontrados num autocarro pelos fiscais sem terem validado os bilhetes?

Toda a gente sabe: os fiscais tentariam falar na língua dos turistas e entre gestos e palavras, com um sorriso, ter-lhes-iam explicado todo o processo, com a ajuda de metade do autocarro. Fornecer-lhe-iam ainda todas as informações que estes solicitassem e despedir-se-iam desejando uma feliz estadia. Completamente fora de causa a aplicação de multa. É uma questão de fraternidade, de bom acolhimento, sentido de bem receber quem nos visita e está fora do seu meio, etc, etc. Se um fiscal fugisse a estas regras tácitas de boa convivência com o estrangeiro, seria censurado e repreendido pelo autocarro em peso. O português é gentil e bom anfitrião. Talvez demais.

Que acontece perante o mesmo inicial cenário em Paris?

Conto o que vi com os meus olhos:

Os turistas tentaram validar os bilhetes no obliterador à entrada que não se destinava ao seu tipo de bilhetes, e não puderam ver que havia outro obliterador, escondido atrás dos muitos passageiros. À chegada ao centro, onde sairiam, são surpreendidos pela entrada brusca de dois fiscais de origem provavelmente magrebina mas possivelmente já de segunda geração, que os imobilizam e impedem de sair, que os fazem esperar e que, por fim, lhes comunicam que têm de pagar 35 euros por pessoa. São completamente impermeáveis aos argumentos de que os turistas tinham adquirido os bilhetes que haviam tentado, inutilmente, obliterar, desconhecendo que havia outra máquina. Não! Tinham de pagar imediatamente. Isto é dito ferozmente, como se estivessem a lidar com terroristas. E se o não fizessem? Pagariam no regresso, no aeroporto, cem euros cada um, ou não viajariam. Evidentemente que, pelo sim pelo não, os viajantes, ainda que duvidando do excesso de malvadez da ameaça, preferiram pagar ali.

Após a saída dos fiscais, o motorista do autocarro, que se mantivera todo o tempo calado, dirige-se aos turistas a falar a sua língua; era um conterrâneo.


Morais da história:

A desumanidade pega-se.

Só temos razões para nos amarmos enquanto povo.

Esperem pelo V Império: haverá um caderno de boas maneiras para tratar o semelhante em situação de desvantagem. Um estrangeiro está sempre em desvantagem. Esse caderno será redigido por um Português e não terá tradução, pois certos requintes do pensamento nacional não têm equivalente em outras línguas. Será bom que comecem a estudar um pouco da língua portuguesa, preferencialmente de antes do "acordo", menos corrompida.

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