2015-12-23



Risoleta C Pinto Pedro


Um prolongado e amplo Natal



"O cristianismo de tradição portuguesa, tal como é vivido pelo povo e pensado pelos filósofos (exemplarmente: Sampaio Bruno, Guerra Junqueiro e Leonardo Coimbra) consiste fundamentalmente, segundo Os Positivistas, na prática das três virtudes teologais, mas a Esperança anima de sentido futurista ou messiânico a Caridade e a Fé. É denunciada a influência e o predomínio nos meios eclesiásticos portugueses da tríade francesa Deus, Cristo, Igreja como uma fórmula fixista ou de crucificação, contrária à índole dum povo mais interessado no Natal e na Ressurreição."

"Sobre Álvaro Ribeiro (Contra o maniqueísmo)",
in IV Volume das Obras Completas
< de António Telmo



Este povo de que aqui se fala é, obviamente o povo português na sua tradição marrana ou de cristãos novos, judeus cristãos, tal como a estrela que nesta época especialmente nos visita, ou a quem abrimos em Dezembro as portas, Jesus, ao mesmo tempo judeu e primeiro cristão, se isto pode dizer-se assim. Que era judeu é inquestionável, se era cristão já poderá problematizar-se. Foi Cristo, isso sim. E desse Cristo, diz António Telmo, interessam-se os portugueses muito pouco pela crucificação e muito mais pela alegria do nascer e do renascer. Natal e ressurreição. É um facto que os festejos da Quaresma não atingem os planos que atingem em Espanha, nem em dramatismo nem em extensão, e o Natal, mais ou menos superficialmente vivido, é incontornável, até para ateus. Que o diga a minha família, que viu anos a fio um seu patriarca, meu amado avô, marxista e ateu, cantar à lareira ao menino Jesus.

Interessa-nos, como cristãos novos, ou judeus ocultos, o culto, não do corpo morto, mas do corpo vivo. Aquele que nasce no Natal, e que renasce na Páscoa. A morte acaba por ser um pequeno pormenor técnico, pelo meio, aquilo que não se pode evitar para que a Páscoa aconteça. De ouro modo o dizendo, assim põe António Telmo a questão. Assim a ponho eu, nas minhas palavras. Não que a Páscoa não tenha a sua função de interiorização e aprendizagem de um certo silêncio interno, mas em criança eu passava por ela como cão por vinha vindimada, aborrecida pelas músicas que eu considerava tristes, passadas na rádio. E rejubilava com os cânticos de Natal que por toda a parte se ouviam. Hoje, reconheço, em excesso. Actualmente, no Natal, sempre que possível, recolho-me na casa e em mim, para, numa certa Páscoa, pelo menos no silêncio, poder sentir o meu Natal. Isto parece um bocado confuso, mas no meu coração está muito claro:

O Natal começa no dia 1 de Dezembro e termina a 6 de Janeiro com presépio, cânticos de Bach às cançonetas americanas, e júbilo. O carnaval, felizmente, é curto, porque é cada vez menos alegre. A Quaresma, infelizmente, já não é o que era. Volta, Quaresma, estás perdoada. Tenho saudades do teu silêncio e dignidade. A Páscoa é uma explosão de alegria acompanhada na natureza pelo abrir dos botões. Podia repetir-se mais vezes.

Mas como agora estamos no Natal, a menina que eu, aconselhada pelo poema de Pessoa, fui buscar lá atrás a uma estrada, adora o Natal e o silêncio das palhas e a música dos anjos, deseja a todos um feliz Natal, o que quer que isso signifique para cada um de nós.




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