2015-05-20



Risoleta C Pinto Pedro


Os mortos na boca dos vivos



Há muito quem se amofine com o estado de graça em que entram os mortos na boca dos vivos, uma vez ausentes desta comunidade.

A mim aborrece-me mais que os vivos se maltratem por palavras, obras e intenções.

Se a morte traz aos que partiram algum estado de graça, apenas vejo aí uma graciosa mudança dos vivos em relação aos que não o são.

Diria mais, talvez o sentido do morrer seja, pelo menos por enquanto, ensinar os vivos a verem as qualidades para as quais estão obnubilados durante a vida dos outros.

Beneficiam os mortos com isso? A mim parece-me que mais ganham os vivos do que os mortos, porque aqueles aprendem,assim, a criar novos filmes com as suas línguas, e aí onde antes apenas destilavam veneno nasce um alquímico cuspo de beijo ou amor.

Também numa biografia não vejo necessidade de fazer criação de larvas, e ainda que as haja, porque sempre as há, estamos no mundo delas, cumpre ao biógrafo o esforço de compreender fraquezas , reveses e condições, aparentes deslizes e desaires. Como competiria a um médico de mortos. Aprendemos com os mortos a honrá-los e assim melhor cuidar dos vivos, que honrar é uma das formas de cuidar. Que andamos aqui a fazer, se não for isso?

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