2014-08-27



Risoleta C Pinto Pedro


FIDELIDADES



A propósito de partidos e clubes de futebol. Dizem os entendidos (entre os quais não me situo) que se pode mudar de partido, é uma fidelidade relativa, mas nunca de clube. É uma fidelidade absoluta.

E eu fico a pensar. O que é que faz uma pessoa permanecer fiel a um clube desde a iniciação até à grande passagem? Alguns até vão embrulhados nas bandeiras do clube quando atravessam o rio do esquecimento.

Os jogadores mudam, os dirigentes também, até os estádios estão irreconhecíveis com profundas remodelações, os adeptos e os jogadores também vão transitando para o Grande Estádio Eterno, então que liga o adepto ao seu clube?

Isto faz-me realmente pensar. Porque até há quem mude de país. Pelas mais diversas razões, onde estão incluídas as económicas. E de cônjuge, então, nem se fala. Muda-se de casa, de emprego (hoje é mais de desemprego), de cidade, de religião, de estilo, de dieta, de convições, de ideias, de certezas e até de dúvidas.

Mas de clube? Nem pensar! Dizem todos os adeptos, horrorizados. Fidelidade. Ao clube? O que é o clube? Um nome? Uma marca? Uma referência? Uma memória? De quê? Uma fidelidade a quê? A uma… cor? Começaria a acreditar que sim, se não houvesse clubes com a mesma cor. Portanto, também não é por aí…

Inclino-me mais a que se trate de uma fidelidade inconsciente ao… primeiro chacra. Aquele que leva as crianças a sacrificarem-se e criarem doenças para não “traírem” os pais. O primeiro chacra, também designado como chacra raiz, que no corpo se situa na base da coluna, logo acima dos órgãos reprodutores. Tem a ver com o instinto de sobrevivência. Segundo Caroline Myss corresponde, na perspetiva cristã, ao sacramento do batismo. É a tribo. Desequilibrado, este primeiro chacra pode provocar raiva, irritação, medo de não sobreviver.

Isto explica muita coisa. Normalmente, o menino foi levado pela primeira vez ao estádio pelo pai ver o seu clube. O avô também lá está, frequentemente. Esta cerimónia da primeira vez é acompanhada de um ritual que embora hoje se tenha complexificado, sempre teve alguma expressão. Foi uma iniciação. De fidelidade à tribo. Tudo bem.

Mas… acontece que existem mais… seis chacras, onde se desenvolvem outro tipo de fidelidades: ao eu, à natureza, aos princípios de cuidado amoroso para com os outros seres, o planeta. São os outros chacras. Este é o primeiro. O das emoções mais primárias. É importante, mas não é tudo. E na verdade às vezes parece que é tudo. Daí as explosões coletivas de agressividade (medo), raiva e ataque. Se o outro clube ganha, se o outro me desafia com um olhar triunfante e me humilha, que me resta, se a minha tribo tiver sido ferida de morte e eu ainda não tiver encontrado o Eu nem o Tu nem o Eles, nem o Nós, nem… o grande coração universal que une todas as tribos e as reúne e as dissolve num laço de amor?

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