2024-09-04
A SOBREVIVÊNCIA DO MAIS AMIGÁVEL


Risoleta C Pinto Pedro



Que explica que a espécie considerada maior amiga do ser humano seja originária de um grande predador, o lobo? Uma das raras espécies que sobreviveram ao aparecimento do grande predador Homem. A razão é ter-se tornado amigável. Depois, através de incontáveis cruzamentos e experiências, espalhou-se pelo planeta com uma diversidade que não existe em mais nenhuma espécie, sendo que não há raça de cão que não seja originária do lobo, por mais fofinho que pareça. Os cães são os mais sinceros sedutores que conheço. Entre outras qualidades desenvolveram um músculo ocular que lhes permite revirar os olhos e mostrar a parte branca, como acontece nas trocas de afecto dos bebés humanos com as mães, um revirar de olhos absolutamente irresistível.

Este facto contraria a tese da sobrevivência do mais forte e leva-nos a ponderar se o factor de sobrevivência maior não será… a amorosidade? Ou, nas palavras de Jaime Cortesão, a plasticidade amorável.

A que propósito vem isto?

Guy McPherson, professor emérito de “Recursos naturais, ecologia e biologia evolutiva” da Universidade do Arizona, considerando as diversas agressões a que o planeta vem sendo sujeito, afirma que o aquecimento exponencial vai provocar muito em breve a morte das plantas e do plâncton, cuja proteína não vai ter tempo para se adaptar à velocidade das novas e elevadíssimas temperaturas e, consequentemente, a extinção da humanidade. Não seremos os primeiros, todos os dias se extinguem muitas espécies. Em 2007 perdíamos três espécies por hora, admito que hoje sejam mais. São números assustadores. A sexta extinção em massa, acelerada e irreversível. Dentro de menos de… dez anos! Não sei ajuizar a validade dos dados, mas o discurso dele é de uma aflitiva coerência. Há que não confundir a nossa sobrevivência com a do planeta. Há quem fale da “Fortaleza da Solidão”, um bunker que estará a ser construído pelo Pentágono no Ártico, provido com todos os recursos necessários à sobrevivência de alguns, durante umas gerações. Não sei se é verdade. Mas ao fim de uns milhões de anos sem predadores, voltarão outras formas de vida. Já passámos o ponto de ruptura há muito tempo. Uma querida amiga, cientista na área da química, dizia-me, há mais que vinte anos, que ao ritmo a que estávamos teríamos recursos para um máximo de trinta anos. É só fazermos as contas. Contudo, o que aqui pretendo trazer é a reflexão de Guy McPherson sobre o que podemos fazer face ao irreparável: estarmos uns com os outros, não uns contra os outros, olharmo- nos, sermos decentes como não temos conseguido ser até aqui, e solidários. O contrário do que a humanidade continua a fazer. Segundo ele, esta mudança comportamental já não vai evitar a extinção, mas pode ser a única coisa a defender no momento difícil pelo qual viremos, mais cedo, ou mais tarde, a passar.

Por isso, já nem se trata de uma questão de salvação. Com salvação ou sem ela, só nos resta, mesmo, o amor e a decência.

A versão de Guy Mc Pherson é uma parte, a mais aterradora, da verdade. Mas há outras. Uma delas diz que tal não vai acontecer, que já estão a ser desenvolvidas tecnologias para contrariar esta tendência. E que sobreviveremos. Eu creio que se concretizará aquela em que acreditarmos, contudo não poderemos dispensar a parte II da teoria do professor: a do tempo e da atenção e da amorosidade ao outro e ao planeta. Aconselha a que construamos melhor as relações humanas em vez de buscarmos apenas o próximo dólar. Percebendo que não é possível produzir descontroladamente num planeta limitado. Sem este suporte, dificilmente sobreviveremos.

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