Risoleta Pinto Pedro
Reflexões sobre a língua 2
De qualquer modo, os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo, o que prova que o mundo é o meu mundo, isto é: o mundo que vejo é o “meu” e revela-se no facto de os limites da linguagem (da linguagem que apenas eu compreendo) significarem os limites do meu mundo. Linguagem é comunicação, mas comunicação não é apenas linguagem; há uma comunicação profundíssima que não passa pela linguagem, e a linguagem é tanto mais eficaz quanto mais simbólica, ou poética. Quanto mais se aproxima daquilo a que se chama a linguagem dos pássaros.
Esta questão traz consigo uma outra, que é a da comunicação. Quantas vezes já assistimos a discussões, não as dos políticos, em que cada um está interessado em mostrar que o outro não tem razão ainda que intimamente até concorde com ele, mas discussões em que as pessoas até estão genuinamente a querer entender-se e compreender-se, em que estão a dizer a mesma coisa e não se apercebem disso, e até pensam que o outro está a ofendê-lo ou a injustiçá-lo. Isto é muito frequente, sobretudo em actos de comunicação em que o aspecto emocional é muito forte. Forma-se uma muralha de interferências que não permite que aquilo que é pensado seja aquilo que é dito, e que por sua vez o que é dito seja o que é ouvido e que o que é ouvido seja o que é descodificado. Quatro muralhas de contra-comunicação que fazem com que, por vezes, diria mesmo, a maior parte do tempo, a comunicação, quando acontece, seja um verdadeiro milagre.
Mesmo agora, eu não tenho a certeza que aquilo que eu estou a querer dizer seja aquilo que eu digo e que aquilo que eu digo seja aquilo que vocês ouvem (ou lêem), e mesmo que aquilo que vocês ouvem seja aquilo que vocês assimilam. Se formos ver, daquilo que eu quis dizer, o que resta? Muito pouco, quase nada, por vezes, mesmo nada. De qualquer modo, não creio que seja caso para nos suicidarmos, acho até que isto é maravilhoso, a prova de que somos, acima de tudo, seres que pretendem comunicar e têm uma enorme fé na comunicação.
(continua)
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