Risoleta Pinto Pedro
As molas da Roupa
Um dia reparei na omnipresença delas na minha vida. Há quem enalteça o clipe como símbolo da modernidade; acredito, mas mesmo assim não conseguiu destronar as molas da roupa. No fundo, o clipe não é mais que uma mola da roupa mais sofisticada e com menos utilidades. Porque tudo o que faz um clipe, a mola da roupa também faz, mas o contrário já não é verdade.
Para além da colorida instalação que fazem nos estendais da roupa, encontro-as na minha infância, a segurar as calças dos ciclistas, a segurar as minhas calças e saias ao longo da minha vida, sempre que andei de bicicleta. Encontro-as hoje na minha casa por todo o lado, a saber:
- A fechar pacotes encetados de : flocos, purés, gomas, bolachas, etc.
- A segurar livros de páginas teimosas obstinadamente querendo fechar-se quando as quero abertas (há livros que parece que foram feitos para se fecharem e não para se abrirem, como deveriam ser).
- Nos armários a segurar aos cabides peças de roupa demasiado escorregadias (há roupa que parece que foi feita para escorregar, é muita mais roupa de despir do que de vestir…).
- Nas partituras que se abrem como lençóis a segurá-las à estante, para que não se fechem.
- No saco de comida dos gatos para que não devorem tudo de uma vez e a encerrar também o saco da areia para que não a entornem, segurando papéis avulsos com notas, para que não se percam.
- A separar as notas para os pagamentos mensais (as notas têm uma tendência compulsiva para se dispersarem, não sei o que seria delas – de mim – sem as molas da roupa).
- No porta-luvas do carro!!! Como teriam ido lá parar?! Deslocam-se misteriosamente…
Com esta super-aplicação às vezes fazem-me falta para pendurar a roupa. Preciso mesmo de comprar mais molas. Vou já afixar já aqui um lembrete… com uma mola.
risoletapedro@netcabo.pt
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