2006-04-12
QUARTA-CRESCENTE
Risoleta Pinto Pedro


Descubro as coisas mais improváveis…      





… nos sítios mais inesperados. Às vezes, quando isso começa a acontecer, vem em catadupas. No outro dia descobri, dentro de um aquário onde tenho encontrado as mais espantosas coisas, um livro sobre zen e o tao, coisas assim. Mergulhei na leitura, onde se falava dos koan, essas histórias de que toda a gente já ouviu falar, que podem assumir a forma de diálogos, ou de perguntas que não têm uma resposta racional, mas cuja saída apenas pode passar pela intuição. Um dos mais famosos é aquele em que o mestre pergunta: “Se o batimento das duas mãos produz um som, onde está o som de uma só mão?”.

No dia seguinte ao da leitura, alguém me vem falar insistentemente sobre os koan, e no terceiro dia desta viagem, sou eu que sou confrontada, não com uma pergunta, não com uma história, não com um diálogo, mas com uma situação daquelas em que a vida nos mergulha no centro do furacão e de onde apenas se consegue sair assim: ligando o cabo dos dois hemisférios e pedindo à intuição que ajude a razão aflita, às voltas com o paradoxo vivo. Porque é isso mesmo o paradoxo: a versão ocidental do koan, aquela ocupação do mesmo espaço e tempo por dois impossíveis coabitantes do espaço e tempo, de tal modo que a tensão criada, ao olharmos pelo lado da razão, é tão insustentável e insuportável, que não há outra forma de resolver o que não tem resolução, senão com uma surpreendente, inesperada, ilógica e criativa saída. O koan, o paradoxo, a poesia e até o nonsense, de alguma forma, abrem-nos brechas na consciência limitada e cercada, ampliam-nos as saídas para o lugar onde tudo é possível. A vida, quando nós o permitimos, também. risoletapedro@netcabo.pt
http://risocordetejo.blogspot.com/


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