Risoleta
Pinto Pedro
“Crocante”
Comentamos as modas: no vestir, nos objectos, nos sabores. Agora
está em moda o “estilo” crocante. Interrogamo-nos de onde nos
vem este gosto. Que existe de crocante na natureza que nos desperte a
recordação? Não encontramos. As nozes? Só
se for a casca, só se quisermos partir os dentes, porque o miolo
é suave. Amêndoas? O mesmo. Os amendoins? Igual, com a
diferença de que o risco de partir dentes não existe. Nos
restantes frutos não encontramos, nem nos legumes. Não
encontramos a consistência crocante em nada que exista na
natureza.
- Excepto…
Diz Helena, vendo entrar os gatos. Um deles traz uma osga na boca. Vem
comê-la para debaixo da mesa, em segurança. O ruído
que nos chega lembra-nos as ocasiões em que se veio banquetear
com passarinhos ou… os adolescentes despejando sonoramente um pacote de
aperitivos desses que fazem barulho. Ou de um antepassado nosso
mitigando a fome com um pequeno ser semelhante ao que o Luzinho trazia
na boca. Talvez nem tenha sido há tanto tempo assim…
Convém não esquecer. Por causa das arrogâncias.
Para com os outros seres. Por causa da lucidez. Que nos ilumina.
Não sabemos para onde vamos, por isso não será mau
termos presente, ao menos, de onde vimos.
risoletapedro@netcabo.pt
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