Risoleta Pinto Pedro
OS GRAFITTI
"Every generation imagines itself
to be more intelligent than the one
that went before it,
and wiser than the one
that comes after it."
George Orwell (1903 -1950)
Eu pensava que os que fazem grafittis se chamavam grafitters, mas afinal chamam-se writers. Disse-me um aluno meu, que é especialista. Ele tem um livro que mandou vir do estrangeiro cheio de grafittis que me deixaram de boca aberta. Fabulosos. É uma arte. Ia passando as páginas e passando de espanto em espanto e subitamente, como os desenhos holográficos, os grafittis adquiriram profundidade (neste caso, elevação) e eu senti-me transportada até ao tecto da Igreja de S. Roque onde estivera recentemente a observar… graffitis! Já escrevi sobre isso a propósito do barroco, numa crónica anterior, mas só observando os grafittis no livro do meu aluno me dei conta que, provavelmente, não há grande diferença entre o jovem urbano pintor de paredes e o homem do século XVIII frequentador de salões e apreciador de vazios jogos cultistas de linguagem ou de pinturas em trompe l’oeil, como é um exemplo o tecto da Igreja de S. Roque em que se cria a ilusão de uma varanda que prolonga o tecto para cima. Isto é: a angústia da morte e da vacuidade da existência que leva os nossos antepassados do barroco a ampliar o espaço através de uma pintura que cria uma ilusão, é a mesma angústia urbana dos jovens que se sentem emparedados, e na própria fronteira que são as paredes da cidade aí projectam o desejo de expansão que têm dentro deles sem que, a maior parte das vezes, tenham consciência disso. Mas o impulso de vida é muito forte; foi-o no século XVIII, continua a sê-lo no século XXI; eu prefiro que os nossos jovens ampliem o universo limitado que lhes é oferecido expressando-se nas paredes, do que se destruam, se esmaguem contra elas. Enquanto há expressão há esperança.
Depois, recuei mais uns séculos e cheguei até à Idade Média, quando cada mestre construtor assinava na pedra o seu símbolo, tal como os que escrevem os grafittis têm a sua própria assinatura.
Nesta espiral ascendente em que viajamos, a história repete-se, mas nunca é igual.
(O grafitti da fotografia localiza-se na muralha da Palestina e chegou-me via e-mail, de autor desconhecido).
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