Risoleta Pinto Pedro
COMOLHOSDELER
A menina do mar, Sophia de Mellho Breyner
Há livros que é como se não tivéssemos lido. Ou porque foi há muito tempo, ou porque tivemos de o ler vezes de mais, ou porque ainda não sabíamos ler, só sabíamos soletrar, ou porque, ou porque…
Foi o caso de A MENINA DO MAR, de Sophia. No outro dia veio-me parar quase aos pés, um trecho; era uma folha velha a voar no meio de papéis velhos. E dizia assim:
“Em Setembro veio o Equinócio ln ao quadrado igual a menina disse n entre parênteses ao quadrado sobre - Agora quero dançar n igual a 2n forte como um polvo sobre n sábio como um caranguejo igual a dois feliz como um peixe.”
Tratava-se de uma página de Sophia com uma equação em cima, quero dizer, uma página de A MENINA DO MAR a servir de rascunho a uma qualquer equação meio apagada mas a interagir com o texto; da equação consegui recuperar algo mais ou menos assim: “ln ao quadrado igual a n entre parênteses ao quadrado sobre n igual a 2n sobre n igual a dois”.
Não percebi nada da equação mas fui reler A MENINA DO MAR, e da leitura ficou-me justamente o que encontrara no rascunho da equação: uma menina que decide viver a dançar, um polvo forte, um caranguejo sábio e um peixe feliz. No equinócio. Mas revendo a equação, percebi, pela primeira vez, que a menina, o polvo, o caranguejo e o peixe faziam parte da mesma equação. Polvo, caranguejo e peixe são símbolos, atributos da menina. Só não entendi se são a causa, se são o efeito. De qualquer modo são a condição para que a menina dance. Assim: (menina+polvo+caranguejo+peixe), sobre mar = menina a dançar. Sábia, forte e feliz. Sem parênteses. Com mar ao fundo.
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