Risoleta Pinto Pedro
DISCOS VOADORES, GALINHAS E ÁTOMOS
Tenho, na minha desorganizada biblioteca, uma secção sem nome, com os meus
livros preciosos. É nessa prateleira que costumam dormir os gatos. Os gatos
são seres inteligentíssimos, dormem ao lado de Stig Dagerman, António Telmo,
Rainer Maria Rilke, Séneca, Guerra Junqueiro, e outros, que não nomeio, para
não maçar. A minha biblioteca está vagamente arrumada em: poesia, ficção
estrangeira, ficção portuguesa, ensaio, teatro; no ensaio cabe história,
sociologia, filosofia, literatura, religião, esoterismos, etc, uma confusão;
no teatro tenho também ensaio sobre teatro, na poesia tenho uma babel, já
estão a fazer uma ideia... Mas na tal secção dos gatos, entre "Le guide des
étoiles" que me deu um amigo marinheiro, e um "Curso de Hipnotismo" que
herdei da biblioteca do meu avô, tenho um livro que se chama "Como construir
um disco voador", que dá imenso jeito ter à mão, porque nunca se sabe quando
é que temos que construir um. Nesse livro aprendi coisas extraordinárias,
como:
"Uma série de experiências realizadas no Japão provaram que galinhas
alimentadas com uma dieta deficiente em cálcio produziam, como produto final
dos seus processos biológicos, mais cálcio do que aquele que haviam
ingerido. A conclusão é que as galinhas criaram o cálcio de que precisavam
através da transmutação do potássio.
[.] Mas se o potássio pode ser transformado em cálcio (e ainda por cima por
galinhas), talvez não seja má ideia construir um novo modelo de átomo para
explicar como isto pode acontecer."
Não calculam como saber isto é animador para mim. Se até as galinhas são
capazes de fazer alquimia, imaginem onde nós poderemos chegar. Por esta
ordem de ideias, construir um disco voador parece-me, mesmo, uma brincadeira
de crianças. Trabalho de férias.
risoletapedro@netcabo.pt
http://risocordetejo.blogspot.com/
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