Zahir, O ÚLTIMO LIVRO DE PAULO COELHO Não é que não tenha conseguido lê-lo até ao fim. Li, e até, de vez em quando, com algum agrado. O problema é: uma ficção que não convence, cruzada com um real que não vem muito a propósito e com aspectos que poderemos designar, globalmente, como filosóficos, que aparecem, no contexto, um bocadinho a martelo. Na área dos esoterismos, ou auto-conhecimento, ele não se sai mal. Retirada a ficção, talvez obtivéssemos um livro com qualidade na área do conhecimento e desenvolvimento pessoal. O problema é o inverosímil que a preocupação com a verosimilhança ali produz. Semelhante à ambiguidade equívoca que encontro em algumas narrativas de adolescentes ou aspirantes a este mundo da ficção. O excesso de explicações e a preocupação em passar uma mensagem não nos permitem esquecer que estamos a espreitar para um mundo inventado. Neste último livro, Paulo Coelho, ou o narrador por ele, assumindo-se como um personagem também escritor, remete muito para a impaciência dos críticos relativamente ao seu sucesso com as vendas. Acredito que isso aborreça alguns críticos. Os críticos aborrecem-se com muita facilidade com pormenores. Por mim, não me causa nenhum incómodo que o senhor Paulo Coelho ganhe muito dinheiro; afinal, tem-se esforçado por ganhá-lo. O problema (o meu problema, claro?) é que li este livro e não encontrei aquilo que me habituei a considerar como literatura. Dirão que isso é um preconceito meu. Admito. Mas não querendo entrar num niilismo ou relativismo suicidas, não tenho dúvidas que se sei reconhecer, ou se percebo de alguma coisa nesta vida, É MESMO de literatura, e ela, como a arte em geral, é tanto mais criativa quanto mais espaço deixa para a criatividade de quem a recebe. Logo, quanto mais generosa for. A obra exaustiva é totalitária porque excessivamente auto-centrada, ocupa o espaço todo, impede a liberdade do outro. Pelo contrário, alguns objectos de criação irrompem como uma pérola e criam brilho à volta. É nesse brilho que nos recebem, encorajam e convidam a entrar/criar. Essas obras criam um espaço que é quase um não-espaço, ou o não-lugar do infinito. É aquele misterioso fenómeno de transfiguração do real, essa " ponte sobre outra coisa ainda/ essa coisa é que é linda.", de que fala Pessoa, que não encontro neste livro. Encontro mistério, acção, diálogo, descrição, reflexão, bons e maus sentimentos, emoções, boas intenções, narração, ajuste de contas. Estes componentes criam pequenas pontes uns sobre os outros. Mas juntos não conseguem criar uma grande ponte sobre o imenso mistério da criação. Também há quem lhe chame transcendência. Não me importo. risoletapedro@netcabo.pt http://risocordetejo.blogspot.com/ |
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