EU GÉNIO... ... de Andrade. Doutor. Por causa da honra de viver a poesia como viveu. Como vive. Honoris causa Eugénio. . * Com ostinato rigore colhe com as mãos os frutos, retira, de obscuro domínio, o coração do dia. Recusa, do adolescente, as palavras interditas, porque é no limiar dos pássaros que se encontra a matéria solar. Não é breve, a antologia, onde procura, em ofício de paciência, os outros nomes da terra. Pelas vertentes do olhar faz deslizar, do céu colhe, aquela nuvem e outras como quem atrai o peso da sombra para o branco, no branco da luta contra a obscuridade, pelo sal da língua, rente ao dizer. Detém-se agora na véspera da água. Fazem-lhe companhia à cabeceira, os eternos amantes sem dinheiro, num suspenso até amanhã, até à memória de outro rio. . No eléctrico da poesia dele vive-se, desliza-se, respira-se. Procuremos as causas. Nasce com nome de carpinteiro e apelido de origens (José Fontinhas) mas cedo escolhe um nome de destino (... porque tinha/ um destino; in O Sal da Língua). Nasce em ano de génios, nasce em dia de festa, tem sangue duplamente ibérico, pelos pais, pela avó, mas é de mãe que nasce, o que é uma importante causa, ao nascer. Para viver, procura ruas com nomes de alegria (...e à sua roda/ se sentou a alegria; in O Sal da Língua), com nomes de poetas. Alegria, em Lisboa (agora também no Porto, na esquina da Alegria). Antero, em Coimbra. Troca a matemática pela leitura nas bibliotecas. E começa a escrever poesia. O génio é o que ousa escolher (Escrever? Criar?) a sua vida (que pode começar pela escolha do nome: "eu me baptizo, em nome de mim..."), em vez de sofrê-la. Ainda que a viva como quem a sofre. Mas só para disfarçar. Porque é uma coisa mal aceite. E perseguida. Aqui em baixo deve viver-se em sofrimento. Alguns fingem que sim. Outros tomam a coisa à letra e esquecem-se que é só a fingir. Outros ousam mostrar-se como na sua natureza todos são: felizes. Uns conseguem-no, outros são abatidos. A tiro ou com palavras, é indiferente. Ambos os métodos são eficazes. Alguns escondem-se na poesia. E fingem sofrer. São génios. Porque conseguem enganar todo o mundo. É impossível sofrer quando se está na poesia. Mas é possível fingir. Pessoa quase desmascarou os poetas. Quase. Eugénio começa a escrever poemas para os rejeitar, como mais tarde virá a rejeitar tantas palavras de tantos poemas. É um poeta que escolhe palavras. O poema primeiro é uma árvore ( ... crescer como árvore... in O Sal da Língua) onde vai escolher os frutos. O poema que mostra é os frutos que escolheu. E esconde a árvore. As mãos e os frutos: eis a metáfora do seu trabalho com a poesia. Com as mãos (es)colhe os frutos. Pela primeira vez não renega um livro. E como um primeiro gesto pode ser determinante para os que se lhe seguem, não voltará a renegar um livro, o adolescente finalmente reconciliado com o Eu (com o EuGénio). * Texto composto com títulos dos seus livros. risoletapedro@netcabo.pt http://risocordetejo.blogspot.com/ |
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