O ÚLTIMO GALO
Antevendo na capoeira, ainda fechada,
o quebrar da luz no horizonte,
já ao erguer o pescoço,
o metal vibra
no clarim glorioso do novo dia,
como quem pergunta:
– Vós estais ainda vivos?
Pelos pontos cardeais,
espaçadamente, em vão, repete a pergunta,
cada vez mais lancinante.
Nenhum camarada responde
nas capoeiras em redor,
mesmo quando a manhã
atira já da cama os lençóis brancos.
Foge-lhe então da voz
a vibração metálica,
inclina-se o pescoço, naquela capoeira
que, entretanto, alguém abriu,
nas mãos, a faca e o alguidar de barro...
MANUEL AMARAL
in Gentes, Terras, Dia a Dia, UNICEPE, Porto, 2003
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