MARÃO,
lembrando Miguel Torga
Quando os olhos vêem mesmo,
não apenas quando olham
pelos arcos condicionados nas órbitas.
Quando os penedos têm páginas,
tão carcomidas já, da biografia do Mundo,
a falar da Origem, do Ignoto.
Mais que um lugar
no risco do mapa geodésico,
de urze, giesta, carqueja,
xisto, granito, ondas de terra
acima da ilusão, que é o horizonte...
É a vaga alta de emoção,
o sentimento que avassala,
desde as entranhas da terra, que somos,
até ao vibrar dos cristais
das pupilas estelares.
Este assombro que enevoa,
vem dos magmas, glaciares,
errâncias de milenárias gentes,
aqui, onde nunca se espera
que a pomba regresse
com o júbilo do ramo de oliveira!
MANUEL AMARAL
in Gentes, Terras, Dia a Dia, UNICEPE, Porto, 2003
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