que contém os 13 livros publicado entre 1992 e 2014:
Mulher de Loth
...ribeiro, teu indício
O Silêncio Todo.
as cinzas e as brisas
...Ce Quelques Lettres Portugaises
Precário Registo
As Palavras, Este Canto, Este Rio
Poemas Imperfeitos
som in/verso
...nesta luz que a tarde esfria
Longo é o Tempo
Voz Submersa
Canto Quântico
A poeta dirá alguns dos seus poemas e teremos outros cantados por Ivo Machado.
A terminar cantaremos os parabéns pelo 85º aniversário da Autora.
Vídeos:
Maria Virgínia Monteiro tem um poder que usa através da sua poesia. Ou será a Poesia que a
usa para exercer o seu poder? Seja como for, o efeito é o mesmo: arrancar o leitor ao tempo.
Sem contudo deixar de dialogar com ele, o tempo. E o leitor.
Suspende-os e coloca-os frente a frente com poema pelo meio. Traduz a emoção na língua de
Garrett de quem é irmã na música, no ritmo, na coloquialidade, nas palavras asas. Na língua de
D. Dinis, a quem pede a voz da amiga que consigo fica na ausência. Na língua de Cesário, um
olhar atento e sensível ao real, aquele que não fala, a que é preciso dar voz. Na linguagem da
poesia concreta em que as palavras desenham pensamentos vivos. A sua palavra, de
inequívoco tom, é o elemento que liga estas linguagens evocadas por uma poesia pessoal e
totalmente inconfundível. Só uma poeta com uma tão forte personalidade estética consegue
acolher, sem que se perca, a tradição das vozes que lhe sopram do fundo dos tempos, a voz do
seu tempo e a sua própria voz, que parece vir de um futuro que no poema se antecipa.
Estes poemas aparecidos (mas não nascidos) em 1992, reunidos num único volume, abrangem
toda a poesia publicada até 2014.
Treze livros em vinte e dois anos, numa média superior a um livro de dois em dois anos,
iniciando-se com A Mulher de Loth e fechando com Canto Quântico.
Desde sempre fascinada com a excepcional qualidade estética desta autora, tive oportunidade
e o privilégio de escrever sobre alguns destes livros.
Esta voz que do norte ressoa de forma regular e persistente, é um luxo para quem a recebe.
Tenho tido o privilégio de ouvir flauta poética tão pura.
As páginas, onde quer que se abram, estão cheias de música e ritmo.
Não submerge o silêncio, ele bóia entre as letras, nas pausas, nas reticências, nos espaços.
Com elegância.
A lente olhar foca, a partir do presente, passado e futuro.
Percebe-se que esta poesia é uma forma de viver. Quando se adquire tal privilégio?
Como desperta nela o olhar laser que concilia e harmoniza a verosimilhança da sinceridade do
sentir com a música do dizer?
Ouço-a como um sopro doce muito antigo, a amiga das cantigas dos trovadores. Atualizada e
projectada para um tempo que apenas ela e os poetas inspirados conseguem ver.
Dá voz às gaivotas, ao mar e a todos os seres que não compreendemos. Glosa-os com uma
música misteriosa apenas para nós. Através do seu mais profundo "ser" poético ao mesmo
tempo moderno e intemporal. Como escrevi anteriormente: "Uma ponte entre João Roiz de
Castelbranco e o século XXI."
Nada, na sua poesia, é pura forma ou puro efeito. Nem uma palavra a mais aí se encontra.
Mesmo a forma, quando aparentemente se destaca pelo visualismo que por vezes um
processo de original grafismo lhe confere, não é mais do que o conteúdo a extravasar de si
mesmo e a exigir um molde que se lhe adeque: afastando palavras e criando, entre elas,
silenciosos espaços semanticamente eloquentes.
Dialogam as palavras umas com as outras pelo ar da página, o silêncio branco da folha a
separá-las e a afastá-las para que se olhem e se reconheçam. Pela distância. Como espelhos.
Em todos os poemas, sem excepção, a música. Volto a repetir. Pelo ritmo, pela sóbria, contida
e conseguidíssima rima, ou pelo canto da aliteração. Às vezes é música pura.
E há que falar também da lucidez destes poemas "inteligentes" que discorrem acerca da
profunda natureza da condição humana numa discreta, diáfana, mas sólida sabedoria.
De livro para livro, a esperada e inesperada surpresa. Esperada pelo talento que lhe conheço,
inesperada pela capacidade de sucessivamente me surpreender.
É poeta e sacerdotisa. Mora a sua Musa em desconhecido Delfos, talvez dela mesma. Vive
como escreve: na preservação da voz, na expansão do sentir, na ampliação dos versos, na
perscrutação da alma.
Concluo como já uma vez escrevi:
"Não sei dizer muito mais. É preciso lê-la. Até que todos os jornais e todos os críticos falem
dela e as montras das livrarias a exibam como um padrão poético intemporal e autêntico."