2025-01-10, sexta-feira, 18h00:
Apresentação, por Clementina de Matos, do livro
"S. JOÃO BATISTA DA CASTANHEIRA", de Gilberto Bandeira



Conversa entre o autor, Gilberto Bandeira, e Clementina de Matos:
















ANÁLISE AO LIVRO S. JOÃO BATISTA DA CASTANHEIRA

Gilberto Bandeira, neste seu livro, vê Portugal como um puzzle em que diversos povos se encaixam, ao longo da história. Não compreende é como o discurso histórico nos fala somente de uma peça desse puzzle como se nada mais houvesse do que um pequeno pedaço de papel. Para Gilberto Bandeira Portugal é uma espécie de manta de retalhos em que diversos povos se foram encaixando, ao longo dos tempos, numa perfeição que não pode ser ignorada sem perda da nossa identidade. Assim sendo, não entende como se pode colocar uma peça fora do seu lugar exacto sob pena de não encaixar as restantes peças. Neste torrão à beira-mar plantado pouco ou nada sabemos de quem aqui viveu antes da idade do Bronze, mas sabemos que os Romanos nos invadiram em 218 A.C. e que estes nos dizem que aqui habitavam os Cónios, os Celtas, os Túrdulos, os Galaicos, os Ástures e sem dúvida os Lusitanos embora situem a capital destes em Emérita Augusta (Mérida). Pretender falar apenas da história dos Lusitanos será muito redutor e talvez mistificar essa mesma história. Por isso o autor não põe em causa os feitos dos Lusitanos, mas conta-nos a história da sua Região como um contributo para a História do País. Mas como Gilberto Bandeira não é um historiador, mas sim um poeta que no dizer de Torga devaneia vai seguindo a História que nos é ensinada na escola para situar os seus contos, interrogando, duvidando e afirmando o que lhe parece mais plausível…

Gilberto Bandeira, começa por evidenciar a preponderância da mulher na sociedade primitiva (em Cumme Villae), onde ela é o centro da família e do lar. Depois, (em a Tecedeira) salienta o poder do amor que amacia o coração empedernido e tirano do invasor romano. É também uma homenagem à sua mãe uma exímia tecedeira.

Vem, em seguida, (em a Moura Encantada) a denúncia da ganância dos casamentos impostos pelos pais em que o amor é reprimido e leva à morte. Nem os membros do clero, que eram casados nos primórdios da cristandade, escapam à cobiça e à ganância.

Zita e Tojeiro são dois contos onde se denuncia como se formou a primeira nobreza da nacionalidade. São dois contos baseados nas Inquirições de 1258 do Rei Afonso III.

Na segunda parte do livro, que se inicia com a história dos Condes de Atouguia, donatários do Concelho de Monforte de Rio Livre, do qual a paróquia de S. João Batista era a mais importante, Gilberto Bandeira, contesta o epíteto de traidor com que a história caracteriza o Alcaide-Mor de Chaves D. Martim de Ataíde, pois embora o Mestre de Avis tenha cercado a cidade para o obrigar a tomar partido por Ele e D. Martim só ter cedido com autorização do rei de Castela, D. João I de Portugal não devia considera-lo como traidor pois entregou a guarda dos seus primeiros 4 filhos (D. Duarte, D. Pedro, D. Henrique e D. Isabel) a D. Mécia Vaz Coutinho esposa do Alcaide. Mais tarde dois dos filhos de D. Martim foram governadores da casa de D. Pedro (Álvaro de Ataíde) e do Infante D. Henrique (Vasco de Ataíde), sendo que D. Álvaro foi ainda aio de Afonso V e Alcaide-Mor de Coimbra, antes de se tornar Conde de Atouguia. D. Vasco morreu no cerco a Ceuta em cuja conquista participaram os dois irmãos ao lado dos príncipes.

Portanto, na opinião de Gilberto Bandeira, o Rei não considerava D. Martim como traidor, mas fiel servidor de quem lhe fazia benesses, como fora o caso da Rainha D. Leonor Teles.

Em Bandeiras Despregadas, Gilberto Bandeira, tece um hino ao conviver do povo simples, quando é respeitado pelo poder. Este conto é também um belo cartaz turístico da região de Trás-os-Montes. Baseado na história verídica do apelido Bandeira, Gilberto aproveita para enaltecer o futuro rei D. João II que se preocupava mais com os seus súbditos do que com a nobreza e por isso foi apelidado de Príncipe Perfeito.

O mesmo não aconteceu com os reis seguintes de que apenas cita D. Manuel I que se aproveitando da sua ligação ao Papa consegue que várias igrejas contribuam para a sua megalomania, a pretexto de financiarem a Ordem de Cristo. Gilberto não fala dos reis seguintes porque é bem conhecida a ligação destes à fatídica Inquisição e à perda da nacionalidade.

Em O Fim dos Bragançãos denuncia a IV dinastia que se foi isolando das suas origens e as deixou ao abandono, o que originou o fim da Monarquia. Em Thalassa descreve os tempos conturbados do início da República e a chegada do Estado Novo.

Os contos seguintes (Paisagem Campestre, Prendam-me Esses Guardas e Clandestinos) descrevem-nos, em situações por si vividas, a vida difícil das gentes da aldeia, no tempo da Ditadura. Da mesma época é também o conto A Santa da Ribeira, baseado na crendice e religiosidade do povo simples. Termina o livro descrevendo o que foi a alegria de voltar a ser livres (em A Liberdade) e manifestando as suas preocupações ecológicas com a fábula «Uma Gota de Água e a Nascente Desta Ribeira»

Orlando Jorge







LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS