O livro, concebido pelo historiador Daniel Bastos a partir do espólio fotográfico inédito
de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e
exilado político, é apresentado às 16h00 na livraria Unicepe, um espaço cultural de
referência na cidade invicta.
O antigo militar e oposicionista Fernando Mariano Cardeira (ao centro), ladeado do historiador Daniel Bastos (dir.), e do
tradutor Paulo Teixeira
A apresentação da obra, uma edição bilingue (português e inglês) com tradução de
Paulo Teixeira, estará a cargo do historiador e investigador José Pacheco Pereira,
fundador da associação cultural Ephemera, que assina o prefácio do livro.
Nesta nova obra, realizada com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50
anos 25 de Abril, estrutura nacional que tem como missão definir e concretizar o
programa de celebração de meio século de liberdade e democracia em Portugal, Daniel
Bastos revela o espólio singular de Fernando Mariano Cardeira, cuja lente humanista e
militante teve o condão de captar fotografias marcantes para o conhecimento da
sociedade, emigração e resistência à ditadura nos anos 60 e 70.
Através das memórias visuais do antigo oposicionista, assentes num conjunto de
centena e meia de imagens, são abordados, desde logo, as primeiras manifestações do
Maio de 1968 em Paris, acontecimento icónico onde o fotógrafo engajado consolidou a
sua consciência cívica e política. E, com particular incidência, o quotidiano de pobreza e
miséria em Lisboa, a efervescência do movimento estudantil português, o embarque de
tropas para o Ultramar, os caminhos da deserção, da emigração “a salto” e do exílio,
uma estratégia seguida por milhares de portugueses em demanda de melhores condições
de vida e para escapar à Guerra Colonial nos anos 60 e 70.
No ano em que se assinala meio século de liberdade e democracia em Portugal, e numa
época em que mais de metade da população portuguesa nasceu já depois da Revolução
de Abril, a publicação desta obra constitui uma oportunidade simbólica de revisitar o
país como era há 50 anos. Um dever de memória e um exercício de cidadania no
fortalecimento da democracia através da importância da história para inquirir o passado,
pensar o presente e projetar o futuro.
Segundo José Pacheco Pereira, historiador e investigador que assina o prefácio da obra,
“tudo o que constituía contexto dos anos finais da ditadura está presente neste livro, o
país pobre, miserável e injusto onde, desde a mortalidade infantil à nascença, ao
analfabetismo, aos bairros da lata, à insegurança de viver em sítios errados quando
havia um desastre como as cheias de 1967, que matou “naturalmente” os mais pobres e
deixou incólumes os mais ricos, mesmo quando viviam em locais onde choveu mais, o
movimento estudantil que tinha tirado as universidades ao controlo de regime, o
movimento operário reprimido nos seus mínimos direitos, a condição das mulheres
vítimas de todas as violências que a censura proibia de contar, já para não falar da
repressão, das prisões, da tortura, e, por fim, da guerra colonial”.
Nascido já depois da Revolução de Abril, e com vários livros publicados no domínio da
História e da Emigração, cujas sessões de apresentação o têm colocado em contacto
estreito com as comunidades portuguesas, o percurso do historiador e escritor Daniel
Bastos tem sido alicerçado no seio da Diáspora.
Fernando Mariano Cardeira nasceu em 1943, depois de uma trajetória marcada pela
deserção, emigração e exílio nas décadas de 1960-70, o antigo oposicionista regressou a
Portugal após o 25 de Abril de 1974. Foi um dos fundadores da Associação de Exilados
Políticos Portugueses (AEP61/74), e presidiu à Associação Movimento Cívico Não
Apaguem a Memória-NAM.
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