BIOGRAFIA Domingos Lobo
Domingos Lobo - breves notas de um percurso
Andei pelos liceus de Lisboa, rebeldia mansa dos anos 1960; pelos
corredores das Faculdades de Direito (meu remorso de um semestre), de
Letras;
pelas salas austeras do Conservatório Nacional a ouvir dos professores,
sobre Teatro, o que já havia esquecido e não me interessava – queríamos
os interditos: Brecht, Grotovsky, Artaud, Piscator; um mestrado em
Administração e Economia Cultural, que utilizei pouco.
Fiz teatro radiofónico e jornalismo em jornais angolanos ao tempo colonial,
depois, como freelancer para cumprir os dias e resgatar uns trocos para
livros, filmes, viagens.
Meteram-me, à má fila, no negreiro Vera Cruz, rumo às terras angolanas do
Cuando-Cubango. Era a guerra e eu, distraído, bebendo a propaganda
salazarenta até à imbecilidade, acordei em sobressalto numa noite de
bazucas e kalachnikovs, de costureirinhas trespassando os pássaros da
noite, frémitos e perplexidade. Chana e capim a perder de vista. Escrevi um
livro sobre o tema que anda por aí em estudos académicos, pelas histórias
da literatura de guerra e em 2 edições catitas: Os Navios Negreiros Não
Sobem o Cuando.
Foi a estreia nestas coisas de escreviver. Outros 4 romances se lhe
seguiram, mais 3 livros de contos; 5 de poesia; peças de teatro; ensaio,
antologias.
Fundei com outros companheiros e dirigi três grupos de Teatro: GATO
– Grupo de Acção Teatral de Oeiras; Grupo de Animação Teatral de
Salvaterra de Magos e SOBRETÁBUAS - Grupo de Teatro de Benavente;
encenei uma vintena de peças, com Tchekov, Strindberg e Santareno como
referências pendulares desse labor; chefe de redacção do Jornal do Vale do
Tejo.
Fui programador cultural na Câmara Municipal de Benavente; autarca em
Salvaterra de Magos, durante 32 anos (tenho por lá uma rua com o meu
nome, o que me sossega de vã eternidade); Presidente do Conselho Fiscal
da APE, desde 2000.
Participei na II Bienal de Silves, onde proferi a “lição de sapiência” sobre a
obra de Urbano Tavares Rodrigues, e na III Bienal, dedicada à obra de
Pedro Tamen; em 3 edições dos ENCONTROS LUSÓFONOS, organizados
pela CM de Odivelas; na ESCRITARIA/Penafiel, em 2008, ano em que o
evento foi dedicado a Urbano Tavares Rodrigues e em 2013, ano de
homenagem a Mário de Carvalho e no III Encontro Internacional de Poetas
(Ponta Delgada/2019).
Tenho colaboração crítica e ensaística dispersa por várias publicações:
Jornal do Brasil, Vértice, As Artes Entre as Letras, Revista Alentejo, O
Escritor, Foro das Letras, Seara Nova, Revista Cultura, EntreLetras, Nova
Síntese (da Associação Promotora do Museu do Neo-realismo), Avante! e
Gazeta Literária. Dou aulas em Universidades de 3ª. idade; tenho 22 livros
publicados e outros em gestação; vários prémios literários e medalhas para
polir o ego.
SINOPSE
Estes contos de Domingos Lobo percorrem os temas que são centrais na sua
ficção: a Guerra Colonial, as suas perenes sequelas, o que do conflito ficou por
dizer; o amor e os labirintos da morte; as grandes questões sociais do nosso
tempo como o silêncio e a solidão, as feridas ocultas em consequência da
pandemia da Covid-19; o HIV; a homofobia; a eutanásia; o real e o fantástico.
21 contos onde as mais destemperadas formas de existência quotidiana
assentam arraiais.
A memória como elemento primordial da escrita, numa linguagem que balança
entre o amargo provocador, a par do lirismo, da ternura, da raiva, da náusea,
do desencanto e do alvoroço perante o estupor dos dias insanos. Também a
denúncia dos medos que começam a instalar-se nas sociedades
contemporâneas, os retrocessos civilizacionais que as derivas conservadoras e
censórias, sob a capa do politicamente correcto vêm, sub-repticiamente,
dominando, com cínica necessidade, os discursos do poder, aos quais nem já a
literatura escapa.
Tudo isto em processo narrativo de invulgar qualidade, num modo singular de
abordagem dos fenómenos hodiernos, raro na nossa actual literatura.
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