2024-07-13, sábado, 16h00:
Apresentação do catálogo da exposição “𝐏𝐨𝐫𝐭𝐮𝐠𝐚𝐥 𝟏𝟗𝟕𝟓. 𝐅𝐨𝐭𝐨𝐠𝐫𝐚𝐟𝐢𝐚𝐬 𝐝𝐞 𝐅𝐚𝐮𝐬𝐭𝐨 𝐆𝐢𝐚𝐜𝐜𝐨𝐧𝐞",
com a presença do autor,
que será traduzido pelo nosso associado Giandomenico Ferrari.
Vídeos da apresentação:


















Fotografias de Sónia Severina










Excerto de Paula Godinho:

Em Portugal houve uma ditadura que durou 48 anos. Não foi uma ditabranda, porque a dureza dos dias cinzentos perpassou pelas vidas, com pobreza e repressão. Em 25 de Abril de 1974, após um golpe militar, seguiram-se tempos luminosos de uma revolução, com gente na rua a exigir mais do que o previsto. Nas fotos de Fausto Giaccone, a revolução portuguesa mostra-se com uma imensa bandeira vermelha e mulheres de chapéu colorido. Vão num atrelado de trator engalanado, nos dias de julho de 1975, a caminho das ocupações de terras, no processo de reforma agrária que se esboçou. É no Couço, uma aldeia que transportava uma memória de resistência ao fascismo e ao latifúndio, ao longo do século XX, com muitas prisões, tortura, repressão tremenda. Podia ser em muitas outras povoações do Sul de Portugal, onde se estendeu a Zona de Intervenção da Reforma Agrária.

O fotógrafo chegou ao país que inaugurara a democracia num dia primaveril. Em Lisboa, Fausto Giaccone fotografou os dias da revolução e o processo de politização, com pessoas que perscrutavam jornais de parede, entre uma infinidade de cartazes. Foi para o Couço e seguiu o processo de ocupação de terras da Reforma Agrária, a cereja no bolo da revolução. Este belo catálogo é o resultado desses dias, num encantamento visível com quem inventava a democracia dentro de um processo revolucionário, num local que tinha uma longa história de luta e rebeldia, contra o latifúndio e vários formatos de regimes políticos, da monarquia até ao Estado Novo. Um livro belo de Fausto Giaccone, o fotógrafo curioso e apaixonado, que soube ver e sentir esta revolução, acompanhando-a de um centro fulcral, uma aldeia com tanta história na resistência à ditadura e ao latifúndio, e tanto futuro a ser entusiasticamente escrito.

Julho de 2024

https://iiclisbona.esteri.it/pt-pt/gli_eventi/calendario/esposizione-fotografica- fausto-giaccone-o-povo-no-panteao/

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Extraído da introdução do diretor do Instituto Italiano de Cultura de Lisboa, Stefano Scaramuzzino, do catálogo para a exposição:

“A exposição nasceu de uma ideia, de um desejo e de uma vontade. A ideia de deixar um testemunho tangível da exposição nascida da união de forças do nosso Instituto e do Panteão Nacional por ocasião das Comemorações do Cinquentenário do 25 de abril. O desejo de que a sua circulação rompa os limites temporais desta efeméride e amplie a sua mensagem. A vontade de renovar a adesão das nossas instituições aos valores do 25 de abril, italiano e português.

Embora os acontecimentos retratados pela objetiva do fotógrafo tenham ocorrido 15 meses após a Revolução dos Cravos, entendemos o 25 de abril no seu sentido dilatado, que vai até ao outono de 1975, considerando a ocupação das terras alentejanas no verão desse ano como uma natural consequência da afirmação das exigências democráticas de igualdade formal e substancial, que estava na base do golpe dos Capitães e das constituições italiana e portuguesa.

Acontecimentos entrelaçados e paralelos, unidos pela euforia, pela organização, pela desilusão e, finalmente, pela “ressaca”, mas destinados a oferecer um exemplo duradouro com a demonstração de que a utopia era possível, suscitando o interesse mundial pelo sucedimento mais importante dos últimos anos (como o definiu Jean-Paul Sartre) e exercendo uma atração particular sobre os intelectuais italianos, incluindo Fausto Giaccone.

Os rostos, as massas e as paisagens retratados pela sua objetiva implicavam a ideia de que todas as relações económicas e de poder, por mais seculares que sejam, são um facto humano que pode ser modificado pelo homem. A sua publicação e difusão, hoje como ontem, toca as cordas de Itália porque nelas nos espelhamos, reconhecendo a nossa história cultural e política: o ecossistema de uma Sardenha que já não existe, o alento ideal de Carlo Pisacane e dos Irmãos Bandiera, um final feliz para o conto Libertà de Giovanni Verga e para o massacre de Portella della Ginestra, o desejo sonhado no final do Calderón de Pasolini, os enredos surpreendentes de La Storia de Elsa Morante.

É por isso que acreditamos firmemente neste projeto e na sua capacidade de deixar um marco, aprofundando os laços luso-italianos, em continuidade e coerência com a programação antiga e recente do Instituto. Por um lado, já em 1988 as instalações da nossa sede acolheram a exposição Fausto Giaccone, graças à intuição de Antonio Tabucchi, que escreveu a introdução ao volume Una História Portuguesa. Por outro lado, no momento em que escrevo, a exposição produzida pelo nosso Instituto sobre o fotógrafo Uliano Lucas, que também esteve em Portugal nos dias cruciais da Revolução e da luta de libertação na Guiné-Bissau e em Angola, está a partir rumo ao Brasil, depois de duas exposições bem sucedidas no Museu do Aljube, em Lisboa, e no Convento de São Francisco, em Coimbra.

O desejo é que depois da exposição no Panteão Nacional, não lugar de morte, mas de renascimento luminoso, o percurso de Fausto Giaccone e da sua mostra encontre uma continuação natural no regresso às terras onde tudo começou, cujos municípios, não por acaso, aceitaram colaborar na realização deste catálogo: obrigado às vilas de Coruche e de Couço e à cidade de Montemor-o-Novo, e obrigado ao Panteão e ao seu diretor Santiago Macias pela partilha enérgica deste projeto, deste sonho, desta utopia.”

Julho de 2024



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