2024-10-14, segunda-feira, 18h00:
Apresentação do livro "Quando os Olhos Ardem", de Eulália Gonçalves




Apresentação pela Autora (pequeno excerto): https://youtu.be/1De2IKynTjA



































Eulália Gonçalves, nasceu a 22/12/1951 em Candemil no Concelho de Amarante e reside no Porto, desde 1973.
Tirou o Curso Geral dos Liceus, no Liceu Nacional de Bragança de 1963 a 1968.
Licenciada em Serviço Social, é Funcionária Pública aposentada desde 2014. Gosta de Artes Plásticas, dedicando a maior parte do seu tempo livre à Pintura, desde 2008, tendo frequentado alguns cursos livres de pintura e Desenho de Figura Humana na Escola Superior de Belas Artes do Porto, mas assume-se, essencialmente, como autodidacta, tendo realizado várias exposições individuais e colectivas.
Gosta de poesia e desde jovem que escreve, mas de forma muito pontual, sendo este o seu primeiro livro que entendeu publicar, depois de nele reunir 44 sonetos de entre outros.


Prefácio

Estes sonetos que aqui publico, foram escritos ao longo da minha vida.
Um dia um, outro no dia seguinte, outro dai a 1 meses, um ano. Ou 2 ou 3 . Era, quando fosse, quando me sentisse inspirada, como acontece a tanta gente que escreve ou se dedica a qualquer arte criativa.
Inicialmente catarse de pequenas frustrações da adolescência e juventude, foram sendo, também com o passar do tempo, a mais solitária e natural forma, que eu encontrei, de exorcizar os meus demónios que tantas vezes pontificaram nos meus dias, fazendo deles os mais negros, que haveria de viver.
Sujeitos a uma expurga, cujos critérios são pessoais, direi mesmo íntimos, ficaram estes. Daí que, entre eles, tenham ficado alguns dos mais antigos, pelo valor sentimental que têm para mim, que não é, de todo, o valor da qualidade, se algum a tem, como podem, de resto aperceber-se.
Foi esta nobre arte de versejar, o Soneto, que me encantou em nomes grandes da nossa Literatura e que eu escolhi, para desta forma, entregar à brancura do papel, como se entregasse ao vento o que trazia na alma, aprisionado, a gemer em silêncio e a gritar por liberdade.
Em Florbela Espanca, definitivamente , a minha musa, bebi desde muito jovem, o gosto pela que chamo de exposição impúdica da dor, pelo gosto pelo drama, pela exacerbação de um sentimentalismo já de si extremado, transformando um pequeno episódio de melancolia, num vale de lágrimas, uma hecatombe, o que contribuiu, sem sombra de dúvida, embora não completamente, para que uma profunda tristeza impregnasse os 14 versos, e se estendesse transversalmente a estes e outros meus sonetos, na sua maioria, escritos nesses tempos distantes. Ao relê-los, enquanto os coligia, confesso que me chocou a forma despudorada e crua, direi mesmo excessiva, que, consentidamente, se me impôs no momento de os escrever.
E, no entanto, sou eu, inteira, que ali estou na minha humaníssima e falível dimensão, que o mesmo é dizer no meu sentir, sempre tão sofrido e extremo, perante o que não apenas, a mim toca , mas também aos outros, tantas vezes até, desconhecidos. E bem que eu gostaria que assim não fosse.
Como gostaria também, que este meu versejar esparso e pobre, fosse diferente, no seu lastro de tristeza viva, bastando talvez para isso, seguir a máxima de Gastão Cruz, quando diz: “Na poesia procuro uma casa onde o eco existe, sem o grito que, todavia, o gera”.
Mas eu, decididamente, fui (ou vou) pelo exagero insano de uma caso dominada pelo grito, que obviamente, se repercute, em doridos ecos.
À distância de umas dezenas de anos, penso que talvez tenha vivido uma depressão que desvalorizei. Outras vezes, pela sua constância no tempo, creio que tive, sim, grandes momentos depressivos. Mas não somos todos sujeitos a eles?
Para finalizar estas palavras que achei por bem escrever, sobre o sofrimento expresso em grande parte destes meus sonetos, não se convençam, porém, que deixei de ter sonhos e paixões pois que, socorrendo-me de mais uma citação, desta vez de Cecília Meireles que muito aprecio, também eu digo que ”Até morrer estarei enamorada de coisas impossíveis.”
Porém, como os enamoramentos de coisas impossíveis, doces venenos, não são inócuos, acabarei repetidamente, por sair ferida e, nada como um soneto, para nele verter a minha mágoa. No fundo, tudo é circular e repetível.
Este livro é, agora, vosso.
Espero que, apesar da sua simplicidade, o apreciem.

Eulália Gonçalves





Louca

Sou mendiga. Não tenho eira nem beira,
Uma casa, um ninho, um canto onde me acoite.
Vivo ao sol e ao luar, de dia, de noite,
e vê, a minha casa é a terra inteira!

Sou boémia e livre. Nada me acorrenta
Trago a pele crestada em estios de sangue.
Sou o grito que parte, incerto e exangue
O riso e o soluço, ao frio e à tormenta.

E nas tardes mansas, amor, eu sou o vento
Que há de desalinhar os teus cabelos
E de mansinho, beijar a tua boca…

Só sou refém, desse teu ar vagabundo.
Com lágrimas e risos, ando a correr mundo.
E quero lá saber que me chamem louca!


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