2024-04-15, segunda-feira, 18h00,
Apresentação do livro "A Guerra a Leste
8 meses no Donbass", de Bruno Amaral de Carvalho
na UNIVERSIDADE POPULAR DO PORTO: Rua da Boavista, 736 (metro Carolina Michaëlis)





Fotografias de Henrique Borges






















































Excertos do prefácio, do Major-General Carlos Branco:

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Ao contrário do que insistentemente se pretende fazer crer, a guerra não começou em 24 de fevereiro. Bruno constatou isso durante a sua primeira visita ao Donbass em 2018. A guerra civil ucraniana iniciou-se com o golpe de Estado em 2014, patrocinado por potências estrangeiras, que derrubou um presidente democraticamente eleito, e que colocou no poder grupos ultranacionalistas e neonazis, que perseguiram deliberadamente as populações russófonas do Leste e Sul da Ucrânia, proibindo-as de falar a sua língua, professar a sua religião, obrigando-as a negar a sua cultura. O livro dá boa nota desses acontecimentos.
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Apesar de durante oito anos, desde 2014 até fevereiro de 2022, terem perecido 15 mil almas no Donbass, entre civis e militares, os jornais, rádios e televisões ocidentais ignoraram a guerra na Ucrânia, mesmo encontrando-se no território uma missão de monitorização da OSCE.
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Um caso flagrante, são os dramáticos acontecimentos de Odessa, na casa dos sindicatos, em maio de 2014, contados por uma protagonista, onde pereceram meia centena de pessoas, algumas queimadas vivas, no rescaldo de Maidan.
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Bruno Carvalho sugere-nos implicitamente duas leituras. Uma relacionada com o cordão umbilical que liga os habitantes do Donbass à Mãe Pátria russa, em que inequivocamente se reveem e buscam abrigo e proteção. O pulsar natural da atração à Rússia. A outra prende-se com o reconhecimento «tardio» das repúblicas independentista por Moscovo, apenas em fevereiro de 2022, tão ambicionado pelas populações do Donbass, cuja de mora tantas críticas suscitou. Sentiam-se abandonadas. Desesperavam para que a Rússia entrasse na guerra e lhes estendesse uma mão salvadora.
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Excertos do Autor:

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A minha reportagem «Os pássaros não cantam em Lugansk» saiu no Público no último dia de março. Houve, de imediato, várias figuras do jornalismo e da política que criticaram o meu trabalho e a minha presença no Donbass. Não é algo que me tenha espantado. Não sou ingénuo. Sei que há uma elite jornalística em Portugal com muito poder em certas redações, que tem uma corte de acólitos à espera de subir na hierarquia dos órgãos de comunicação social. E eu não era apenas o único jornalista português no outro lado. Era, e de certa forma continuo a ser, um outsider. Essa reportagem deixou muita gente surpreendida, sobretudo amigos, porque praticamente ninguém sabia que eu estava no Donbass, incluindo a minha família.
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E penso que sou um vagão de sonhos e dinamite, um verso de fogo e poesia, um rastilho que se incendeia na linha entre mim e o que me é desconhecido. Estou de regresso. Há dentro de mim um jardim em pleno inverno. E este sorriso permanente como bandeira, símbolo do meu eterno otimismo, mesmo quando não se vê, porque alguém um dia disse que eu sorria com os olhos. Penso que não haverá metralha que me possa derrotar. Porque nada podem bombas onde sobra coração.
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Dias depois, José Milhazes dedica-nos atenção no seu programa habitual de entretenimento na SIC insinuando que estamos aqui, ao contrário de outros jornalistas, porque a Rússia teria aberto uma exceção. Mais tarde, digo-lhe que a única pessoa que chegara à Rússia com a ajuda do PCP fora ele próprio nos idos anos 70. Já tinha explicado em entrevistas a vários meios como é que cheguei a este território, portanto era apenas mais uma tentativa de descredibilizar o meu trabalho para que não houvesse ninguém a fazer a cobertura da guerra deste lado da linha da frente. Cheguei em março do ano passado, atravessei a Rússia com um visto turístico e entrei nas autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk com acreditações das autoridades destes territórios. São documentos que foram entregues também a jornalistas que trabalham para órgãos destacados como La Reppublica (Itália), RAI (Itália), La7 (Itália), TV3 (Catalunha), RSI (Suíça), EITB (País Basco), para além de muitos outros meios de países como a Índia, Grécia, Argentina, França, Suécia, etc. Recordo que em contextos de guerra é normal os jornalistas trabalharem com acreditações das forças que controlam política e militarmente o território onde se encontram, sejam talibãs, houtis, pró-russas, ucranianas, kosovares, sérvias ou norte-americanas. José Milhazes perguntou porque é que a SIC não conseguia meter repórteres aqui. Provavelmente, porque não quis. Quando não se quer, é normal que não se esteja.

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