2019-07-11, quinta-feira, 18h15:

Conferência de PILAR NICOLÁS MARTÍNEZ


A GUERRA CIVIL NO ROMANCE ESPANHOL VISTA ATRAVÉS DE TRÊS GERAÇÕES

O conflito espanhol que teve lugar entre 1936 e 1939 foi determinante para a sociedade espanhola dos últimos 80 anos. De facto, as experiências vividas durante a guerra (tanto como adultos, ou como filhos ou netos dos que sofreram com ela), assim como as consequências históricas, políticas e morais desta contenda converteram-se num dos temas centrais da literatura espanhola deste período.

Nesta conferência pretende-se analisar, comparar e relacionar como relatam o confronto e qual é a perspectiva que assumem no momento de o abordar, três escritores de diferentes épocas: María Teresa León (Logroño, 1903 - Madrid, 1988), Ana María Matute (Barcelona, 1925 - 2014) e Javier Cercas (Ibahernando, Cáceres, 1962). María Teresa León viveu a guerra como adulta, lutando a favor do lado republicano e envolvendo-se de forma ativa na defesa da cultura, tanto como secretária da Alianza de Intelectuales Antifascistas como pela sua participação na Junta de Incautación y Protección del Patrimonio Artístico. A escritora narra estes factos, expondo os seus ideais e a sua postura ética e política em quase toda a sua obra, mas destacaremos duas das principais: o romance Juego limpio (1959) e a autobiografia Memoria de la melancolía (1970).

Ana María Matute viveu a guerra entre os 11 e os 14 anos, sendo um conflito que também aparece recorrentemente na sua obra. Por exemplo, na trilogia Los Mercaderes - sobretudo nos dois primeiros romances: Primera memoria (1960) e Los soldados lloran de noche (1964)-, em Los hijos muertos (1958) ou em Luciérnagas (1955, 1993). No entanto, a lembrança é muito diferente da de María Teresa León, colocando o foco no desastre que a contenda produziu no conjunto da sociedade e nas tragédias dela derivadas, dando especial protagonismo às crianças.

No ano de 2001 aparece Soldados de Salamina de Javier Cercas, obra que alcançou um grande êxito entre o público e a crítica, contribuindo para o forte protagonismo que a revisão da memória da guerra atingiu no romance espanhol do século XXI. Neste livro desenvolve-se, a partir de um acontecimento menor durante um fuzilamento, uma reflexão sobre os comportamentos particulares dos indivíduos num contexto extremo, a própria contribuição para a escalada de violência, as decisões que se tomaram e a responsabilidade pelas suas consequências. A este assunto voltou Cercas recentemente no romance El monarca de las sombras (2017), investigando, a partir da sua história familiar, a herança da guerra.


PILAR NICOLÁS MARTÍNEZ. Doutora em Literatura Espanhola e Teoria da Literatura pela Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED) com a tese de doutoramento intitulada El teatro español en Lisboa en la segunda mitad del siglo XIX. Trabalha na Faculdade de Letras da Universidade do Porto como docente de literatura espanhola, espanhol como língua estrangeira (ELE) e formadora e supervisora de professores de ELE em formação inicial. As suas principais áreas de investigação estão relacionadas com a literatura espanhola contemporânea, o teatro espanhol do século XIX e as suas relações com Portugal e, em geral, os Estudos Ibéricos literários e culturais.


LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS