Notas biográficas
Apresentação: Lígia Ferro (Faculdade de Letras da Universidade do Porto e ISCTE-IUL)
Apaixonei-me pelo teatro e pela sociologia quando estudei na Escolha Secundária Carolina Michaëlis, no Porto. Após terminar o ensino secundário e depois de muito hesitar, porque nunca fui rapariga de uma atividade só e a hiperespecialização sempre me assustou, decidi estudar sociologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde continuei a fazer teatro amador. A descoberta da dramaturgia da vida social levou-me a aprofundar o interesse pelos estudos qualitativos, ingressando no doutoramento em Antropologia Urbana no ISCTE-IUL, em Lisboa. Desde então, procuro reinventar-me através dos instrumentos que a sociologia, a antropologia e o teatro me deram, no contexto da minha prática como professora auxiliar convidada do Departamento de Sociologia, FL-UP, como investigadora (IS-UP e CIES-IUL) e como cidadã.
Autores coordenadores
João Teixeira Lopes: (Faculdade de Letras da Universidade do Porto)
Nasci no Lobito, em Angola, em 1969 e vivo em Portugal desde 1975. Sou filho de um empregado de escritório (que coordenava o contencioso de um sindicato) e de uma funcionária pública. O meu pai marcou-me profundamente, pelo incitamento à leitura e à reflexão política e social. Era militante e, em Angola, onde viveu quase vinte anos, estava inscrito no MPLA. Guardo uma fotografia de um jornal em que o meu pai é o único ponto branco numa multidão negra que apoia Agostinho Neto. Por isso, apesar de "retornado", fui muito precocemente socializado num ambiente de esquerda. No 11º ano, uma inquieta professora de filosofia, que leccionava sociologia, levou-me a trilhar o caminho desta formação. Faço o que desde essa altura desejei fazer: dou aulas e pesquiso. Assim, sinto-me feliz por ser sociólogo.
Abomino as heranças científicas e o espírito de seita. Acredito que é possível pensar "com", "contra" e "para além" dos grandes mestres. Ainda assim, imagino-me como marxista.
Pedro Abrantes (Universidade Aberta e CIES-IUL)
Nasci em Lisboa, em 1979. Nas ruas do Monte Abraão, surgiu o fascínio pela diversidade, a liberdadee a amizade. Das muitas viagens familiares, brotou a curiosidade pelos diferentes povos e esta casa em que vivemos juntos. Cresci numa família de professores, viajantes, resistentes anti-fascistas, encantado com as suas histórias da revolução. A adolescência foi uma longa noite de desilusões, da
qual me salvaram o desporto e a arte. No ISCTE, descobri que não era afinal uma pessoa tão estranha, apenas um sociólogo. Mistura improvável da paixão paterna pela educação, o sentido materno de justiça e o deambular fraterno pelas profundezas da alma. Vagueei pela Europa, entrando em muitas portas. Fui estudante, investigador, professor, avaliador e ativista, quase tudoao mesmo tempo. Escrevi e fotografei muito. Julgaram apressadamente que eu tinha talento. Apaixonar-me, casar, ter filhos e mudarmo-nos para o México, foi voltar a pôr os pés no chão. Foi ir muitas vezes contra uma parede, até sair de mim próprio e começar a ver Portugal em três dimensões. A força do tempo, o método biográfico e as vidas fascinantes que se escrevem em programas de educação de adultos tiveram muito a ver com isso. Por milagre, ganhei um concurso para professor na Universidade Aberta e voltámos para Lisboa. É aqui que a história recomeça.
Sofia Lai Amândio (CIES-IUL)
Em 1979, Oeiras, chamaram-me "Sofia Lai", apesar de toda a minha família materna, residente em Portugal, dar pelo apelido "Lay". Intrigada com o registo civil, era "Lay" que assinava, em contextos informais, na juventude. Nasci cá, numa família de direita. Mas desde os 15 e sobretudo desde os 18a nos, o meu coração pulsou pela esquerda - apesar de ser por vezes vista como uma melancia, dado o meu estilo de vida aburguesado. Em 1999 fui viver para Paris e em 2006 para Lyon, de onde parti para Leicester em 2008, antes de regressar a Lisboa. Sempre apaixonada pela sociologia, procurando compreender as emoções nas relações sociais. E claro, queria sentir-me estrangeira de facto, e gozar dessa liberdade identitária. A minha luta prende-se com a utilidade da sociologia.
Resumo do livro
Animados pela convicção de que a sociologia existe para os cidadãos, os autores deste livro direcionam esta disciplina para os seus sujeitos de estudo, e trazem até si a matéria-prima utilizada pelo método biográfico: a voz dos entrevistados.
Cada um dos 17 capítulos, aqui contidos, folheia uma história de vida e veicula a ideia refrescante - que tanto enriquece os indivíduos e que tanto tem ocupado os sociólogos - de que numa pessoa habitam multidões.
As entrevistas foram realizadas entre 2008 e 2015 e abarcam o início da Grande Recessão. Vários anos volvidos de reflexividade, resistência e coragem recobrem temas centrais à nossa sociedade contemporânea como as desigualdades sociais, a integração e a exclusão social, a educação e a literacia, o trabalho, o emprego e as profissões, a cultura, a arte e a música, a religião, as migrações e a linguagem, os movimentos sociais e o associativismo, a economia, a gestão e as finanças.
Nos modos de recolha contam-se a entrevista biográfica, o relato autobiográfico, o filme, a fotografia e o diário de campo. Os dados foram editados em prosa, em poesia e mesmo em guião cinematográfico.
Se se deixar seduzir por esta romaria, a nossa convicção é que o leitor irá encontrar elementos que não conhecia da vida na sociedade em que vivemos e que poderão impulsionar programas de transformação, rumo a um mundo mais rico, plural e justo.
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