2017-11-06, segunda-feira, 18h:

Apresentação de livros e ilustrações de Flor Campino









Flor Campino nasceu em Tomar e formou-se em Pintura na Escola Superior de Belas Artes do Porto.
Autora de 5 livros de literatura infanto-juvenil e de outros 5 de poesia, publicados nas Edições Afrontamento.
Na Unicepe vem relançar o último, Gil e a Fantasminha, mostrar algumas das suas ilustrações e apresentar o livro de poesia "Elogio do efémero", que acaba de sair.


Flor Campino é não só poeta mas também artista plástico. Daí um paralelismo possível que se pode estabelecer entre poesia e pintura ou o desenho. Ao fazermos a leitura do seu novo livro, Elogio do Efémero, logo verificamos que os seus poemas se caracterizam pela sua brevidade. Geralmente cada um é formado por três versos. Isto mostra que há uma experiência poética que se encontra marcada pela exiguidade, por um certo minimalismo. Tal exiguidade é uma forma geralmente emocional de realizar esta abertura ao real, às coisas. E, ao mesmo tempo, representa aquele instante que corresponde a uma descoberta: ‘’ Traz a varanda/ para dentro de casa mais/ do que a vista alcança’’. A varanda aqui também pode ser o poema.

Vejamos algumas das incidências que vêm marcar esta poesia. Como já foi dito há nela uma relação com as cores, as texturas, os traços de um desenho imaginário. Dois exemplos: ‘’ O ar, fustigado/ pelo jacto da mangueira/ irisa o jardim’’. E este outro ‘’O  verde perdido/ acena feliz no verde/ que vejo agora’’.

Um segundo aspecto a ter em devida conta, a reiteração: ‘’ Tudo sonha/ mesmo o sonho  do sonho/ que adormece a sonhar/ que sonha acordar’’. Por vezes a mesma palavra é usada no seu sentido literal e no metafórico (ou catacrético,  como será o caso): ‘’O cântaro na penumbra/ da cozinha antiga acende/ a sede da minha sede.’’ E,  finalmente, outro exemplo, em que se retoma o imaginário circular do sonho: ‘’Sem saberem que o sonhador morreu/ os sonhos do seu sonho/ sonham ainda’’.

Um terceiro aspecto: a referência ao concreto, ao que está ao alcance da percepção, pode diluir-se, quase apagar-se. É o encontro com o abstracto ou, mesmo, com o irreal, o qual pode ser entendido, em certos casos, como aquele minimalismo que atrás foi referido. Assim, em alguns poemas vamos encontrar a presença de plantas, árvores ou frutos. É o caso do jacarandá, do Kivi, da acácia... ora estas palavras designativas de espécies podem afastar-se do plano do real, da natureza, e apagar-se numa virtualidade que pode ser até a sua ausência ou a sua metamorfose. E o que se passa com as plantas do jardim ou com as árvores também chega à presença humana, ao nosso corpo, como se pode ver neste breve mas também belo poema: ‘’Deixa à cortina de chuva/ a lembrança do gesto/ que te abandona os ombros’’.

A autora, numa nota de abertura, refere que Elogio do Efémero é um livro bilingue – os seus poemas estão traduzidos para francês na mesma página – e isto, como nos diz, justifica-se por ter vivido um alargado espaço de tempo em Paris, onde desenvolveu sobretudo uma actividade na área das artes plásticas.

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Fernando Guimarães (in Jornal de Letras, 2 a 15 de Agosto de 2017, página



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