2023-12-16, sábado, 11h30:
Lançamento no Porto do livro de poesia "Afecto e Consciência", de Manuel Duran Clemente,
com apresentação de Jorge Sarabando










Duran Clemente
Apresentação do livro “Afecto e Consciência”, poesia, de Manuel Duran Clemente
Por Jorge Sarabando
Unicepe,16/12/23


A poesia representa sempre uma dádiva, a eterna busca de um outro, a quem se oferecem palavras, num modo de voz, como se foram mãos que se estendem a outras mãos.

A melhor poesia é para ser lida e deve ser lida em voz alta, para ser bem entendida e partilhada. Talvez por isso o autor escolheu, como introito do seu livro, dois poemas, de José Régio “Não vou por aí” e de Camões, o que assim começa “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, certamente pelo seu significado, mas também porque renascem de cada vez que são declamados ou cantados. Como os versos, também citados, de José Carlos Ary dos Santos.

Cada poema é uma fonte de mil cores, tantas quantas quem se encanta e repete palavras escritas em épocas distantes, como se foram escritas agora, por si ou para si. Porque geraram uma cumplicidade, despertaram a vontade de uma partilha.

Mas para isso é preciso que as palavras respirem poesia, que nelas desponte e se reconheça uma voz poética. Por vezes é preciso serem lidas em voz alta para tocarem o leitor e que este reconheça o sentido de o autor as querer inscrever na pedra do tempo.

Diga-se que neste livro de Duran Clemente a voz poética não se revela logo nas primeiras páginas. É preciso caminhar no chão das palavras para que se torne reconhecível entre expressões de afecto e assomos de consciência. Como no “Abril poema”, cito
“Desatar nós.
Até ao outro. Aos outros nós.
Aos nós e nós!
Nós sem idade.
Nós sem nós.
A sonhar liberdade.”

Como no “poema mãe (Nai)”, ou no “primeiro dia”, ou no “Um dos nossos – Salgueiro Maia” ou nesse divertimento intitulado “nesta terra são muitos os Carlos”, dedicado ao seu amigo Carlos do Carmo. Como nos textos em prosa, presente na evocação de Adriano Correia de Oliveira.

A poesia está lá.

É um modo de transcender o real, quando oprime, indigna, aprisiona, ganhar asas em busca de um outro, que nos leia ou escute. E assim nos possa acolher e entender.

Ao longo das palavras de Duran Clemente encontram-se expressões de afecto, doces e generosas, outras de inconformidade e rebeldia e uma certa agrura, que perpassa em muitas páginas. Ao longo dos textos as mulheres estão muito presentes, com louvor, encantamento ou redenção. É tocante o seu poema à mãe, “teus olhos azuis/ ainda hoje me afagam”. Como é belíssimo um texto de seu pai, que transcreve, numa sessão pública de homenagem, no Fundão, a uma sua irmã mais velha, no dia em que fazia cem anos, que fora como “uma segunda mãe”. É bem um hino àquelas mulheres que nem puderam aprender a ler, mas que eram a luz de uma casa, a força de uma família e abriam caminhos para a vida.

A obra encerra com o longo requerimento apresentado à hierarquia militar, ainda antes do 25 de Abril. Texto notável e surpreendente, espelha uma época e dá-nos a conhecer um carácter insubmisso. Vale bem a pena ler este livro de Duran Clemente, como abraço de humanidade e testemunho de um militar de Abril, defensor dos seus ideais e valores.



AFECTO e CONSCIÊNCIA (texto apresentação do autor)
Apresentação do Livro 11.11 (Lisboa) e 16.12 (Porto)

“O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que realmente sente” FP.
Podia ficar por aqui… mas não.
Não mereceis. Não mereço.
Devo neste mundo de hoje conturbado…fazer algumas considerações e pedir a vossa
paciência.
A primeira sobre as guerras que nos invadem quotidianamente o espirito e corpo.
Neste nosso país e aldeia à beira mar.
Nos milhares de famintos e mortos por todos os conflitos.
Afecto muito pouco. Consciência ainda menos.
Por cada gota de intolerância e de violência bem precisamos de um balde de POESIA.

As pandemias das retóricas e dos diletantismos, da ganância e dos interesses subterrâneos.
Bem nos recordam “Subterrâneos da Liberdade “ .Volta a trilogia dos “Ásperos Tempos” ,da
“Agonia das Noites” e felizmente ,por assumida inquietação e consciência, a “Luz no
Túnel”…de Jorge Amado.
Não há vacinas que bastem?
Há.
Para mim o galego (de mãe)e beirão(de pai) existem.

O custo do SABER e do CONHECIMENTO …escapa às multinacionais da jactância obscurantista manipuladora e exploradora …não se mede em moeda real ou virtual mas sim na vontade, ânsia e dinâmica do caminhar e lutar por sermos humanos solidários na Paz, na Solidariedade e Liberdade. Na dignidade do nosso tão pouco tempo de vida…mas com o ADN de sermos gente crescida.

Hoje podia citar os sábios como Confúcio: “É preciso que o discípulo da sabedoria tenho o coração grande e corajoso. O fardo é pesado e a viagem longa”. Longa ou não, digo eu.

Ou citar Platão :“ Não espere por uma crise para descobrir o que é importante na vida”.
Ou como disse Luther King e outros :“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio
dos bons!
Ou desse outro grande poeta brasileiro :“ O amor é grande mas cabe no breve espaço de beijar” o Carlos …dos Carlos no meu poema : Drumond de Andrade. Ou ainda como bem escreveu Cícero: “Não basta adquirir sabedoria , é preciso, além disso
saber utilizá-la” !


Que vos posso dizer mais?
…dois ou três quase poemas. MDC.



Manuel Duran Clemente, de mãe / “nai” galega e pai beirão nasceu, na quinta de Santa Rita, de sua tia-avó galega, que criou sua mãe em Palença-Casquilho/ Almada, em 28 de Junho de 1942.
Sempre se destacou na poesia e na escrita desde a sua escola primária. Viveu a sua infância em Penamacor/Beira Interior, a vinte quilómetros de Capinha / Fundão, terra natal de seu pai, militar de carreira.
Estudou em Lisboa no Instituto dos Pupilos do Exército de 1953 a 1961. Destacou-se com brilho nos seus estudos e formação física e militar. Já aí colaborou em escritos e foi galardoado, com 16 anos, pelo Ministro do Exército com uma menção honrosa num concurso literário. Foi primeiro classificado do seu curso secundário e médio. Foi também comandante do batalhão escolar.
Na Academia Militar venceu o concurso literário entre as Academias Militar de Portugal e de Espanha, com o tema nacional “Camões, o Homem, a Obra e a Época”.
Foi multifacetado gestor (director ou administrador) no sector militar e sobretudo na área civil em mais de 60 anos.
Conviveu desde muito cedo com futuros e ilustres intelectuais, artistas, poetas e políticos como o seu amigo desde jovens Fernando Mascarenhas e depois nos anos sessenta com Teotónio Pereira, Maria Teresa Horta, Urbano Tavares Rodrigues, Fernando Lopes, Maria João Seixas, Maria João Pires, José Saramago, João Cutileiro, Carlos do Carmo, João Perry, Maria Carrilho, Vítor Wengorovius, Joel Hasse Ferreira, Rogério Paulo, Eduardo Catroga, Pedro Tamen, Carlos Barbeitos, Daciano Costa, entre outros. Nesse ambiente conheceu a pianista Teresa Cortez Pinto Seixas, com quem casou e teve os seus primeiros dois filhos, André e Frederico. Do segundo casamento, com outra pianista, Vera Blanco, nasceu a filha Rita.  Crítico universitário de cinema e literatura.
Presente em 1973 no Congresso da Oposição.
Capitão de Abril - 1973/1974.
Director do semanário Voz da Guiné.
Membro do corpo redactorial do “Boletim do MFA” / 5.ª Divisão/CEMGFA/, órgão quinzenal.
Vice-Presidente e fundador da Associação de Amigos Portugal- Guiné/Bissau.
Fundador e director da Associação dos Amigos da Fundação das Casas da Fronteira e Alorna.
Fundador da Associação 25 de Abril. Fundador e activista do Movimento Cívico “Não Apaguem a Memória”.
Fundador e director da Associação Conquistas da Revolução e da sua revista trimestral.
Membro do colectivo da Presidência do Conselho Português da. Paz e Cooperação.
Autarca em Lisboa, assessor e adjunto do Munícipio do Seixal e gestor de suas concessionárias: CDR — Desenvolvimento Regional, Parque Industrial e Ass. Ambiente.
Colaborador da Seara Nova e do Jornal do Fundão. Redactor do semanário Extra.
Autor do livro “Elementos para a Compreensão do 25 de Novembro.”
Coautor dos livros “30 anos do 25 de Abril”, “Livro Branco da 5.ª Divisão” e “De la Revolution des Oeillets au 3ème millénaire”. Autor dos blogues “Omiranteal-mirante” e “ProsaPoética MDC”. Relativamente à sua acção profissional como militar foi galardoado com o grau de cavaleiro da Ordem de Avis (1971).
Pela sua intervenção na conspiração e acção, como capitão da revolução de Abril/74, foi agraciado com o grau de Grande Oficial da Ordem da Liberdade (2021).



Sinopse

[…] Duran Clemente também nos aparece neste livro como uma bela memória de um Sampaio Bruno em «Os Cavaleiros do Amor» uma certa aura de cavalaria nos traz à mente aquilo que foi necessário para formar o Homem, e não somente o agente da guerra, aquelas fontes iniciatórias que resgatam ao ser as componentes que firmam o grau de civilidade pela noção alargada de um cumprimento. Ele tem esta marca. É pronunciadamente o romeiro, mas também o cavaleiro, trovador, e, para quem o conhece, um certo epíteto lhe vai bem, Lancelot do Lago. Um lago de espelhos onde o seu garbo não é uma questão que se discuta, mas um louvor a prestar, uma sintonia entre o cavaleiro-poeta que se adentra pelo mundo onírico de certo ideal — que o tempo que nos veste agora, não sabe já desta transparência… e por isso, estamos desta antiga Humanidade, apartados. É de salientar o «Poeta Hermafrodita» uma prosódia comparada a uma exaltação de um ramo matriarcal, que mais que entoar, fecunda e gera, mas que não dita o que tal componente de alguma forma também desdita: «poetizo/ poetisa?» No entanto, é de extrema importância o efeito gerado por uma consciência que transfere o dom para além da acentuação do dilema. O entendimento mais perto da consciência poética acaba por se debruçar sempre nesta tónica e tende mais tarde a esquecê-la quando nada disso parece por fim ser importante. Que entre o fazer e o ser, há distâncias, e só se quebrará tal solidão quando se transformar o amor na coisa amada. Há ainda a dizer que a voz de um homem não se cala ao terminar o ciclo do seu esplendor, ela segue-o desmesurada por todos os territórios da vida, fazendo de todo o percurso uma viagem, onde em alguns, revisitamos ainda o tamanho imenso do que foi ter conseguido deixá-la melhorada. Devemos gratidão a estes homens.

Do Prefácio, Amélia Vieira







LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS